Quem é Greg Abel, sucessor de Warren Buffet?
Contador de formação, o canadense de 62 anos está desde os anos 2000 na Berkshire Hathaway e foi responsável por liderar aquisições bilionárias

No dia 3 de maio de 2025, um auditório repleto de fiéis investidores da Berkshire Hathaway ouviu uma notícia que, embora esperada, ecoou com o peso de uma era se encerrando. Aos 94 anos, Warren Buffett anunciou que deixará o comando do conglomerado e, merecidamennte, se aposentará. O escolhido para sucedê-lo é Greg Abel, canadense de fala mansa, contador de formação e herdeiro moral do estilo austero e paciente de Buffett. A nomeação marca o início de uma nova fase para uma das poucas empresas não tecnológicas a romper – e manter – o patamar de US$ 1 trilhão em valor de mercado.
Desde agosto de 2024, quando atingiu essa marca, a Berkshire não a perdeu, mesmo com os solavancos provocados pela retórioca de Donald Trump, que disputava, na época as eleições presidenciais e já dava sinais de que retomaria sua política tarifária. Em um mercado cada vez mais dominado por big techs e valuations inflacionados, a solidez da Berkshire é uma exceção. Ela não se apoia em algoritmos ou metaversos, mas em trilhos de ferro, usinas de energia e uma montanha de dinheiro em caixa: nada menos que US$ 350 bilhões. A força da Berkshire está justamente na arquitetura construída por Buffett ao longo de seis décadas – uma holding diversificada que lucra com seguros, energia, transporte, varejo e participação acionária em gigantes como Apple e Coca-Cola.
Greg Abel é, ao mesmo tempo, continuidade e renovação. Ele nasceu em Edmonton, Alberta, no Canadá, e iniciou sua carreira como contador após se formar pela University of Alberta. Começou no setor de energia, passando por empresas do setor elétrico e, eventualmente, integrando-se à MidAmerican Energy, que viria a ser adquirida pela Berkshire Hathaway em 2000. Desde então, Abel se destacou como operador meticuloso, especialista em gestão de ativos regulados e profundo conhecedor dos bastidores da infraestrutura americana. Está na empresa desde 2000, subiu pela hierarquia sem alarde, moldou o braço de energia da holding, e desde 2018 atua como vice-presidente responsável por todos os negócios não ligados a seguros – grosso modo, a maior parte do império. Entre suas credenciais estão aquisições bilionárias como a da NV Energy, em Nevada, e da canadense AltaLink, ambas executadas com a paciência que Buffett sempre admirou.
Aos 62 anos, Abel representa um perfil mais técnico e menos carismático. Seus interlocutores o descrevem como analítico, disciplinado e pragmático. Não se espera dele frases inspiradoras em cartas aos acionistas, mas sim um foco operacional quase clínico. Em Wall Street, ele não é uma estrela – e isso talvez seja exatamente o que a Berkshire precisa.
O que também está em jogo é a disposição de Abel para empregar o colossal arsenal financeiro da Berkshire. Nos últimos dez trimestres, a empresa vendeu US$ 175 bilhões em ações, acumulando um caixa que, em tempos de crise, transforma-se em vantagem competitiva. Buffett, em sua última conferência como CEO, lembrou que os melhores negócios da holding surgiram em meio a colapsos – e que tempos turbulentos estão a caminho.
Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca e sua agenda protecionista ganhando força, a economia americana pode viver um novo ciclo de rupturas, especialmente nas cadeias globais de fornecimento. Isso gera medo para muitos, mas oportunidades para a Berkshire. A dúvida é se Abel será mais agressivo na caça a barganhas ou se manterá a postura conservadora, com a mão sempre no freio. Não há apostas de que a Berkshire se transformará radicalmente. Ao contrário de outras histórias corporativas marcadas por sucessões conturbadas, a Berkshire parece preparada.