Propostas para protagonismo do país marcam edição de 2025 do Brazil Economic Forum
Reunidos em Zurique, nomes da política, do Judiciário e dos negócios traçaram a rota para o Brasil se destacar no cenário global

Entre os primeiros decretos que assinou logo após tomar posse como o 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump incluiu a retirada do país do Acordo de Paris. Com essa decisão, Trump não apenas cumpriu uma de suas promessas eleitorais, mas abriu espaço para que outros países assumam o protagonismo na agenda global da sustentabilidade — um papel para o qual Brasil possui credenciais naturais. Explorar as oportunidades da transição energética e da economia verde foi um dos principais temas do Brazil Economic Forum Zurich 2025, promovido entre os dias 22 e 24 pela Editora Abril, por meio de VEJA, e pelo LIDE — Grupo de Líderes Empresariais, na Suíça.
O evento reuniu os principais nomes da política, da economia e dos negócios do Brasil, como os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) — que participou por vídeo —, e do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, além do ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo. Os governadores de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, do Tocantins, Wanderlei Barbosa, e do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, também estiveram em Zurique. “Não devemos nos inibir com a mudança de agenda dos Estados Unidos”, afirmou Riedel. “São trilhões de dólares postos na mesa para a transição energética e devemos liderar esse processo.” Os maiores ativos do Brasil nessa briga são a força da agricultura, uma peça-chave da segurança alimentar mundial, e nossa matriz energética limpa. “Consolidar a liderança brasileira rumo à economia verde requer a mobilização de todos, inclusive dos governos estaduais”, disse Ibaneis Rocha.

Apesar das oportunidades que a economia verde traz, o Brasil tem muita lição de casa a fazer. “Precisamos acertar a mão e recuperar o grau de investimento”, afirmou Isaac Sidney, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Embora os mais de 330 bilhões de dólares em reservas internacionais deem ao país segurança para enfrentar crises, a trajetória da dívida pública preocupa. Desde o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a dívida saltou de 72% para 77% do produto interno bruto. “É um assunto que deve ser enfrentado”, ressaltou Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. “Quanto mais cedo, melhor.” O peso da dívida sobre os brasileiros é um reflexo do gigantismo da máquina pública — outro tema urgente. A reforma administrativa, anunciada ainda em 2022 pelo gabinete de transição de Lula, não saiu do papel. “Ela geraria resultados significativos, mas requer uma decisão política dura”, destacou Meirelles.
A pacificação da política e a defesa da democracia também foram destacadas no evento em Zurique, devido às suas implicações para as empresas e a economia. Uma pesquisa da Amcham, que promove o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos, mostrou que 46% das 733 empresas consultadas apontaram a estabilidade política como fator essencial para o sucesso dos negócios neste ano — uma alta de quatro pontos percentuais sobre 2024. O assunto ganha relevância em meio à polarização política mundial. “Há um certo desprestígio global da democracia”, afirmou o ministro Barroso, do STF. “É preciso atenção com a ascensão do populismo autoritário.”

Barroso atribuiu o fenômeno à frustração popular com o descumprimento de promessas de prosperidade e igualdade. A capacidade de o Brasil superar a tentativa de golpe tramada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e seus auxiliares mais próximos foi exaltada no evento como um exemplo da força das instituições nacionais. “Poderíamos estar aqui contando a história de um desastre”, afirmou o ministro do STF Gilmar Mendes. “Em vez disso, falamos sobre uma intervenção institucional bem-sucedida.” Com isso, os brasileiros preservaram outro bem valioso. “Falar em democracia é falar em liberdade”, sublinhou o ex-presidente Michel Temer. Ele também destacou a capacidade de resistência contra as graves ameaças de ruptura: “Inaceitável pregar a queda de um governo para implantar uma ditadura”. A maturidade das instituições, o setor produtivo pujante e a vocação para os negócios ligados à sustentabilidade mostram que o Brasil tem condições de liderar as agendas mais relevantes do século XXI. O Fórum de Zurique apontou os caminhos para o país atingir esse objetivo.
Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2025, edição nº 2929