Potencial adormecido do turismo freia cobiça política pela Embratur
Ministério do Turismo está na mira do Centrão, que deve emplacar novo ministro; Brasil recebe menos visitantes que países com governos polêmicos
O presidente da Embratur, Marcelo Freixo, trabalha como se não estivesse cercado pelas incertezas que rondam a pasta ao qual ele está submetido. Pressionada, a Ministra do Turismo, Daniela Carneiro, deve entregar o cargo nesta semana. O União Brasil, partido do qual Daniela pediu desfiliação, tem pressionado o governo para ficar com o cargo. A legenda quer emplacar o deputado Celso Sabino (União-PA) na função. “O trabalho segue firme”, afirmou Freixo. “Não há nenhuma pressão ou conversa sobre trocas por aqui”, prosseguiu.
Mesmo que não haja cobiça pela cadeira de Freixo, toda mudança no organograma ministerial gera brecha para que qualquer posição seja pleiteada. “Ministérios podem ser moeda de troca, não podem ser troco. Troca enseja que haja importância de discussão acerca do objeto. Troco é o que sobra”, lamentou o ex-ministro do Turismo, Vinicius Lummertz.
Em conversas recentes, Freixo afirma que ainda há muito desconhecimento sobre o alcance da Embratur, agência cujo objetivo é a implementação de planos para a promoção comercial e de destinos turísticos brasileiros no exterior. Dessa maneira, portanto, a empresa não tem nenhuma vinculação orçamentária com o ministério, não recebe emendas parlamentares e tampouco tem, em sua visão, impacto eleitoral.
Apesar do desconhecimento, o potencial do setor de turismo no país é grande. “É uma indústria: a cada 1 real investido na promoção do turismo, são 20 reais que entram na economia local”, destacou Freixo. “A cadeia do turismo é muito ampla, muito democrática e muito geradora de empregos”, comemorou.
O Brasil recebeu cerca de 2,7 milhões de turistas estrangeiros nos quatro primeiros meses do ano. O número equivale a 75% dos visitantes internacionais que entraram no país em todo o ano passado. “Lula é o maior garoto-propaganda da Embratur. O Brasil voltou. Um alemão não visitaria um país que promove queimadas na Amazônia”, disse Freixo.
Mesmo que o ex-deputado federal diga o contrário, um turista estrangeiro não deixou de visitar o Brasil por causa do ex-presidente Jair Bolsonaro e sua agenda antiambiental. Dados mostram que o turista médio não coloca a ideologia em pauta quando vai escolher as próximas férias. A Turquia do polêmico presidente Recep Erdoğan, por exemplo, recebeu 46 milhões de visitantes em 2019. A Hungria do primeiro-ministro e amicíssimo de Bolsonaro, Viktor Orban, recebeu 32 milhões de turistas no mesmo período. A Rússia de Vladimir Putin, em guerra, recebia cerca de 4 milhões de visitantes anualmente – hoje é ainda menos devido a sanções e à própria guerra. A Venezuela do autocrata Nicolás Maduro recebeu apenas 430 mil visitantes em 2017.