Por que o prejuízo de US$ 872 milhões da Vale no quarto trimestre de 2024 não preocupa
Analistas preferem destacar o anúncio de que a Vale pagará 2 bilhões de dólares em dividendos em março

A Vale reportou, nesta quarta-feira 19, um prejuízo líquido de 872 milhões de dólares no quarto trimestre, frustrando as projeções do mercado que apontavam para um lucro de 2 bilhões de dólares. As expectativas estavam alinhadas aos lucros que a mineradora vinha apresentando: 2,39 bilhões de dólares no terceiro trimestre de 2024, e 2,44 bilhões no último trimestre de 2023. O contraste entre o resultado apresentado e as expectativas, contudo, não aborreceu os analistas, a julgar pelos primeiros relatórios divulgados por gestoras e corretoras na manhã de hoje. As análises destacam que as perdas são contábeis e, portanto, sem impacto real sobre o caixa da mineradora.
Basicamente, dois fatores atrapalharam a última linha do balanço da Vale. O primeiro foi uma despesa não recorrente devido à baixa contábil (impairment) das operações em Thompson, na província canadense de Manitoba, onde a Vale explora duas minas de níquel. Com isso, a rubrica “reversão de redução ao valor recuperável de ativos não circulantes” registrou uma perda de 1,96 bilhão de dólares no quarto trimestre. A cifra é 866% maior que as perdas de 203 milhões de dólares lançadas no mesmo período do ano retrasado. Já no terceiro trimestre de 2024, essa linha estava positiva em 1 bilhão de dólares.
O segundo elemento que prejudicou o balanço da mineradora foi a depreciação do real frente ao dólar, que impactou negativamente a marcação a mercado de swaps de obrigações – instrumentos financeiros utilizados por empresas com dívidas e despesas em moeda estrangeira. Com isso, os derivativos de câmbio geraram perdas de 787 milhões de dólares, ante ganhos de 218 milhões no último trimestre do ano retrasado, e de 69 milhões no terceiro trimestre de 2024. O desempenho foi decisivo para que a Vale encerrasse dezembro com um resultado financeiro líquido negativo de 1,76 bilhão de dólares, o dobro do reportado no quarto trimestre de 2023 e 371% maior que os 374 milhões registrados entre julho e setembro de 2024.
Os fatores que levaram ao prejuízo no fim do ano passado não abalaram o bom humor dos analistas. “É importante mencionar que ambas as situações não possuem efeito no fluxo de caixa”, afirmou a Genial Investimentos em relatório assinado por Igor Guedes, Luca Vello, Isabelle Casaca e Iago Souza.
No geral, o mercado preferiu olhar para a redução de custos apresentada pela companhia, para o crescimento do ebitda, um indicador de geração de caixa bastante valorizado pelos investidores, e para o anúncio de que a empresa pagará 2 bilhões de dólares em dividendos e juros sobre capital próprio em março.