Por que o preço do café especial (gourmet) não aumentou tanto como o do café comum
Diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio, explica o que está causando a inflação do café comum

Com alta de 40% em um ano, o café tem sido um dos vilões da inflação no supermercado. A escalada no preço da bebida que é paixão nacional nos últimos meses é resultado de uma combinação de fatores, como a quebra de safra em importantes países produtores, devido a condições climáticas adversas, altos custos de insumos agrícolas, e a desvalorização do real. O produto é mais um na lista da inflação dos alimentos, uma das grandes causas da queda de popularidade do governo.
Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Celírio Inácio, o aumento da demanda global também pesou na precificação do produto. “Tivemos um aumento do consumo e uma expectativa de que esse crescimento continue em 2025 e 2026. Além dos países que já são consumidores tradicionais, entraram no mercado novas nações, como a China, além do crescimento do Japão e de alguns países árabes. Isso dificultou o equilíbrio entre produção e consumo, impactando os preços”, explica Inácio.
As exportações também exercem um papel relevante na formação dos preços, já que o café é uma commodity negociada em bolsa. No entanto, o dirigente da Abic esclarece que isso não significa que a venda para o exterior prejudica a disponibilidade do produto no mercado interno. “A exportação não atrapalha o consumo do Brasil nem encarece o produto. Se houver mais demanda, a exportação será maior, mas se houver menor produção, a disputa será maior”, diz.
Por que o café especial não subiu tanto de preço?
Enquanto o café comum teve um forte aumento de preço, o café especial, também chamado de gourmet, sofreu reajustes mais moderados. Se antes o café gourmet custava até quatro vezes mais do que o comum no mercado, hoje essa diferença caiu pela metade. Segundo Inácio, isso ocorre porque esse segmento tem um modelo de precificação menos volátil. “O preço do café especial já é historicamente mais elevado e menos impactado pelas variações da commodity. É um mercado mais estável, que atende a um nicho específico”, diz.
Outro fator que contribui para essa diferença ter diminuído é a dinâmica de reposição dos produtos nas prateleiras. Os cafés gourmet têm menor giro no varejo. “A renovação do estoque é mais lenta em comparação aos cafés tradicionais, que são repostos mais rapidamente. Isso significa que os aumentos de preço demoram mais para chegar ao consumidor final”, explica o executivo da Abic.
Ele diz que, se não houver grandes problemas climáticos em 2025 ,a expectativa é de uma normalização da produção. No entanto, a expectativa para a produção da variação arábica, usada nos cafés especiais, é menor, o que pode levar à alta dos preços.