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Por que o Bolsa Família vai mudar de nome mesmo sem pagar R$ 400

Rebatizado de Auxílio Brasil, programa de transferência de renda depende de manobras no orçamento para governo bancar promessa

Por Larissa Quintino Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 out 2021, 12h13

O Bolsa Família, programa de transferência de renda, deixará de ser pago após 18 anos. Engendrado durante o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a iniciativa de pagar um benefício social — que agora tinha valor médio de 189 reais — virou uma unanimidade no Brasil, e mesmo quem atacava o programa, como é o caso do atual presidente Jair Bolsonaro, concorda com a necessidade de assistir a população de baixa renda, e claro, com as oportunidades políticas que isso traz. Às vésperas da eleição de 2022, na qual Bolsonaro deve disputar a sua permanência no cargo com Lula, o presidente tornou o rebranding do programa na prioridade número um de seu mandato. Antes mesmo da promessa de bancar 400 reais mensais até o fim de 2022 para 17 milhões de famílias, a primeira mudança do programa foi rebatizá-lo. Assim, a partir de novembro, os beneficiários passarão a receber o Auxílio Brasil e não mais o Bolsa Família, ainda que o valor pago seja bem próximo do benefício atual.

A troca de nome do programa social aconteceu pela medida provisória 1.061, de agosto deste ano. Na prática a MP que institui o nome Auxílio Brasil determina que, 90 dias após a sua publicação, está revogada a lei de 2004 que criou o programa Bolsa Família. Assim, a partir de 10 de novembro, ele será extinto. Na quinta-feira, questionado por VEJA, o Ministério da Cidadania afirmou que o Auxílio Brasil será pago a partir de 17 de novembro, utilizando o calendário do Bolsa Família. Porém, para operação do programa, o governo precisa publicar um decreto nos próximos dias com a regulamentação. Vale salientar que, caso o Congresso não aprove a MP 1.061 até dezembro, ela perde os efeitos, e o programa volta a se chamar Bolsa Família e com a modelagem anterior de operação. 

Segundo o Ministério da Cidadania, o Auxílio Brasil em novembro terá um reajuste de 20%, com o benefício médio passando de 189 reais para cerca de 200. Esse aumento será concedido com as sobras de orçamento do Bolsa Família. Após o pagamento do Auxílio Emergencial durante sete meses deste ano, será possível financiar esse aumento, porém não há como chegar nos 400 reais planejados. A ideia do governo Bolsonaro era pagar o auxílio turbinado já em novembro porque, neste mês, foram feitos os últimos pagamentos do auxílio emergencial.

Com a promessa de aumento feita antes mesmo de haver meios de bancar o programa, o governo corre para resolver a equação. Até o meio de outubro, a aposta era em um benefício de 300 reais, que para ser bancado dependia da abertura de espaço fiscal via PEC dos Precatórios e a aprovação da reforma do Imposto de Renda, já que a alíquota sobre dividendos e juros sobre capital próprio seriam as fontes para financiar o programa de forma permanente. Com o enrosco do IR no Senado, Bolsonaro decidiu aumentar a aposta. Ordenou aos auxiliares um programa de 400 reais — mesmo que isso furasse o teto de gastos. Já que não há fonte permanente para o programa, o aumento será concedido apenas até o fim de 2022. A ideia do governo era já pagar o benefício de 400 reais em novembro, mas como a PEC dos Precatórios ainda não foi votada na Cãmara, o Ministério da Cidadania admitiu que o benefício no próximo mês terá um valor menor.

O que é a PEC

A PEC dos Precatórios é uma Proposta de Emenda à Constituição que altera as regras para o pagamento de dívidas judiciais do governo que já transitaram em julgado, ou seja, já passaram por todas as instâncias e precisam ser pagas. O texto que está na Câmara dos Deputados propõe um limite para o pagamento dessas dívidas, corrigido pela inflação. Para 2022, cerca de 40 bilhões de reais serão autorizados para os precatórios, caso a MP seja aprovada. O valor total devido pelo governo no próximo ano é de 89,1 bilhões de reais.

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A abertura de quase 50 bilhões no teto de gastos, porém, não é suficiente para bancar o auxílio de 400 reais, segundo a equipe econômica. Para manter o discurso de austeridade fiscal — mesmo que o mercado financeiro já tenha precificado o estouro do teto — o governo tenta então manejar o teto na MP. Além do limite dos precatórios, o texto estabelece uma alteração na correção da âncora fiscal, trocando o período de julho a junho para janeiro a dezembro. Com a disparada da inflação em 2021, o governo teria então um espaço maior para gastar no próximo ano. Segundo as contas do relator, deputado Hugo Motta (Republicanos -PB), serão abertos 83 bilhões de reais de espaço no Orçamento do próximo ano.

Para que haja esse espaço, entretanto, é preciso que a medida seja aprovada. Havia a expectativa que a PEC passasse nesta semana, mas, devido ao quórum baixo em Brasília, o projeto deve ser apreciado só na próxima semana na Câmara dos Deputados. Caso aprovada, a matéria segue ainda para o Senado. Apenas depois de aprovada, é promulgada.

De acordo com os técnicos, como a lei deixa de valer em 10 de novembro, a partir desta data não haverá base legal para o governo transferir o dinheiro por meio do programa Bolsa Família.

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