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Por que a diversidade brasileira virou aposta de crescimento da L’Oréal

Brasil é o único país com todos os 8 tipos de cabelo e 55 dos 66 tons de pele mapeados globalmente

Por Camila Barros Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 abr 2025, 08h00

O Brasil é uma vitrine de quase todos os fenótipos do planeta. Um mapeamento do Grupo L´Oreal identificou que este é o único país do mundo que possui todos os 8 tipos de cabelo do 1A, liso escorrido, ao 4C, crespo fechado. Mais: abriga 55 dos 66 tons de pele encontrados globalmente, mais de 80% do total.

É por isso que, para a operação brasileira da L’Oréal, diversidade não é apenas um imperativo moral – é uma estratégia de vendas. Na Ilha do Fundão, zona norte do Rio de Janeiro, o Centro de Pesquisa e Inovação da companhia adapta fórmulas globais e desenvolve produtos para o mercado local. Foi ali que nasceu, por exemplo, a linha Elseve Cachos, criada para atender a clientela cacheada, fundamental no Brasil.

É uma das apostas para acelerar o crescimento nos mercados emergentes, especialmente na América Latina, que ainda representa a menor fatia das vendas do grupo. Por aqui, a divisão que mais cresce é a de Grande Público, que reúne marcas como L’Oréal Paris, Garnier, Colorama e Maybelline. Em entrevista a VEJA, Alexis Perakis-Valat, presidente global da divisão, fala sobre o posicionamento da marca no Brasil e os desafios e oportunidades do mercado mundial.

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Alexis Perakis-Valat, Presidente Global da Divisão de Grande Público do Grupo L’Oréal. (//Divulgação)

VEJA: Em termos de vendas, a América Latina ainda representa a menor fatia no balanço da L’Oréal. Isso também vale especificamente para a Divisão de Grande Público? 

Alexis Perakis-Valat: Na nossa divisão, a América Latina tem um peso maior do que na média do grupo. Atuamos no mercado de massa, mais desenvolvido na região, e somos fortes em cuidados com os cabelos, que têm mais relevância por aqui. É um mercado que cresce rápido. No ano passado, 50% do nosso crescimento veio de mercados emergentes: América Latina, Oriente Médio, Sudeste Asiático, Índia e África Subsaariana. E, entre eles, a América Latina teve um papel importante, especialmente Brasil e México.

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VEJA: Quais são as características específicas do mercado brasileiro que você não vê em outras partes do mundo nessa divisão?

Perakis: Primeiro, os consumidores brasileiros estão entre os mais exigentes do mundo em cuidados com os cabelos. Por isso, o Brasil é um campo importante para a gente em termos de treinamento e inovação. Se conseguimos fazer algo funcionar aqui, conseguimos em qualquer lugar. A segunda característica é a diversidade. É um país que concentra todos os tipos de cabelo e quase todas as tonalidades de pele do mundo. 

VEJA: O Brasil tem marcas nacionais muito fortes, como Natura, Boticário, Lola – especialmente em cuidados com os cabelos. Como a L’Oréal se diferencia dessas marcas?

Perakis: Natura e Boticário são muito fortes em categorias como fragrâncias e cuidados com o corpo – onde não atuamos. Então já há uma diferenciação aí. Além disso, os posicionamentos de marca são bem distintos. L’Oréal Paris, por exemplo, se apoia em três pilares: ciência, empoderamento feminino e luxo parisiense acessível. Essa é a beleza das marcas: algumas pessoas se conectam com propostas mais ligadas à natureza; outras, com o universo parisiense. Essa diversidade de perfis é o que permite que marcas diferentes coexistam e prosperem.

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VEJA: Gostaria de ampliar o olhar mais globalmente. Este ano, o mundo entrou em um momento de forte incerteza econômica devido à política tarifária de Donald Trump.  A Divisão de Grande Público da L’Oréal  tem alguma previsão do impacto disso?

Perakis: É mais um evento, entre tantos, num mundo super volátil. Na minha divisão, produzimos localmente os produtos que vendemos nos EUA – como muitas empresas de bens de consumo rápido. Fazemos isso por economia, mas também por sustentabilidade. Não faz sentido um shampoo dar a volta ao mundo. Para outras divisões pode ser que importe um pouco mais, mas o ponto é: essas previsões mudam tão rápido que é inútil tentar antecipar tudo. A gente observa, adapta e segue – como costumamos fazer. 

VEJA: Desde que Trump assumiu a presidência dos EUA, muitas empresas têm recuado em suas políticas de diversidade, tentando se alinhar à retórica do republicano. Como você vê esse movimento? Isso pode afetar as operações nos EUA?

Perakis: Diversidade é um valor central para nós. E valores não mudam – nem em pessoas, nem em empresas. É um ponto inegociável.

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Além disso, diversidade é essencial para o nosso sucesso. Se você é uma empresa de bens de consumo, precisa de times que reflitam a diversidade do seu público. No Brasil, um dos países mais diversos do mundo, isso é ainda mais claro: se quisermos vencer aqui, precisamos ter equipes diversas.

VEJA: Num cenário global tão instável, quais são as expectativas e oportunidades para os negócios em 2025?

Perakis: Para a nossa divisão, vemos muitas oportunidades. Os mercados emergentes são uma grande aposta – pela ascensão da classe média e pela crescente sofisticação dos consumidores. Nossa participação de mercado nos emergentes ainda é menor do que na Europa ou nos EUA. Então ganhamos em dobro: os mercados crescem mais rápido, e ainda temos espaço para crescer dentro deles.

VEJA: Quais as tendências de beleza que devem ficar no radar?

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Perakis: A primeira é a “medicalização” da beleza – o que chamamos de “mass medical”. São marcas que os consumidores conhecem por meio de médicos, como dermatologistas, e que costumam ter uma aparência mais clínica. Funcionam muito bem para peles sensíveis.

Outra tendência forte – especialmente no Brasil – são os produtos sensoriais. Aqueles que fazem você se sentir bem: pela cor, textura, acabamento. É um produto “feliz”. Num mundo incerto, as pessoas buscam prazer imediato, pequenas doses de dopamina. Então não basta ser eficaz – o produto também tem que dar prazer.

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