Os sinais de Mercadante no BNDES: financiar exportações e economia verde
Petista assume banco de fomento com intuito de estimular PMEs, projetos sustentáveis e parcerias com outros países do Mercosul

Em cerimônia de posse do novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Social e Econômico (BNDES), Aloizio Mercadante, de 68 anos, deu as diretrizes do que será o banco de fomento durante sua gestão. Mercadante defendeu que o BNDES faça parte da Federação Brasileira de Bancos, a Febraban, reclamou do volume de dividendos pagos pela instituição à União, e afirmou que o banco estimulará as exportações por parte da indústria brasileira, um pedido do vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Geraldo Alckmin, que é responsável por gerenciar o BNDES hoje. A cerimônia também foi marcada pelas presenças do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e da ex-presidente Dilma Rousseff, além do governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PL), e do prefeito da capital carioca, Eduardo Paes (PSD).
No encontro, Mercadante fez questão de ressaltar os executivos de grandes bancos que representavam o mercado financeiro no evento, tais como Isaac Sidney, presidente da Febraban; Luiz Carlos Trabuco, presidente do conselho de administração do Bradesco; e Pedro Moreira Salles, presidente do conselho de administração do Itaú Unibanco. Mercadante também fez menção e elogios a Josué Gomes da Silva, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, a Fiesp. “Muito bom tê-lo à frente da Fiesp”, afirmou Mercadante.
O petista disse que o BNDES “tem que ter visão de longo prazo, visão estratégica” e financiar, sobretudo, exportações, mas “não apenas de commodities agrícolas”. “As empresas brasileiras precisam disputar mercado, ganhar escala, ganhar competitividade e eficiência. Nós precisamos exportar. Essa é uma pauta fundamental para o futuro do BNDES, da indústria e do Brasil”, complementou.
Assim como o presidente Lula, Mercadante criticou o fim da taxa de juros de longo prazo, a TJLP, e afirmou que o atual modelo prejudica as micro, pequenas e médias empresas que precisam tomar crédito no mercado. “Não queremos e não estamos reivindicando um retorno ao padrão de subsídios do orçamento como ocorreu no passado, mas uma taxa de juros mais competitiva, sobretudo para micro, pequenas e médias empresas”, disse ele. “Atualmente, a TLP (Taxa de Longo Prazo) apresenta enorme volatilidade e representa um custo financeiro acima do custo da dívida pública federal, o que penaliza de forma desnecessária as micro, pequenas e médias empresas.”
Sobre os dividendos, Mercadante disse ser “injusto” que o BNDES pague 60% dos seus dividendos para o Tesouro, enquanto o Banco do Brasil paga cerca de 40% desse montante. “Nós queremos isonomia no tratamento”, afirmou ele.
Embora tenha dito que não almeja que o BNDES dispute mercado com os bancos privados, Mercadante pediu para que a instituição faça parte da Febraban. “Prometo que as reuniões vão ficar mais interessantes”, disse ele, mencionando o presidente da federação. “Se quisermos ter futuro, nós precisamos de um BNDES mais presente e atuante e de uma relação de equilíbrio para o Tesouro, mas nao pretendemos ficar disputando mercado com o sistema financeiro privado”, reiterou.
Mercadante afirmou que, hoje, há um hiato de 226 bilhões de reais em investimentos em infraestrutura no país e prometeu usar o banco de fomento para “dar suporte a esses investimentos”, apoiando sobretudo projetos que tenham como foco uma transição para a economia de baixo carbono. “Transitar de uma economia de baixo carbono com empregos verdes e de baixa emissão é um imperativo que orientará a estratégia do banco”, afirmou. “Não existirá futuro sem preservar a Amazônia e outros biomas. Essa será a prioridade do BNDES.”
Por fim, Mercadante afirmou que a eleição de Lula “reposicionou o Brasil no mundo e abriu uma nova janela de oportunidades”. “Saímos da nossa condição de pária, herdada pelo governo anterior, e voltaremos a ser uma grande liderança ambiental e mundial e o país respeitado que fomos no passado”, disse ele, atacando o legado deixado por Jair Bolsonaro.
Na sequência, o vice-presidente Geraldo Alckmin voltou a enfatizar que a reforma tributária é “essencial para o florescimento da indústria”, elogiou a equipe montada por Mercadante e pediu cooperação do banco de fomento junto à indústria, sobretudo para exportações. “O BNDES é central para o financiamento de PPPs e concessões para a economia brasileira”, afirmou Alckmin. “Financiar as exportações brasileiras é gerar empregos no Brasil”. Para ele, o Brasil precisa aprovar o “bom momento” para retomar as tratativas para um acordo de livre comércio do Mercosul com a União Europeia.