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Os indícios de que Trump recorreu ao ChatGPT para definir tarifas

A fórmula para determinar tarifas recíprocas não passa de uma regra de três sem relação com taxas de importação — e pode ter sido elaborada por IA

Por Diogo Schelp Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 abr 2025, 16h11 - Publicado em 4 abr 2025, 10h46

Quando o presidente americano Donald Trump apresentou sua tabela de “tarifas recíprocas” em um grande cartaz colorido, semelhante a cartolinas de trabalho de escola, economistas e especialistas em comércio exterior ficaram abismados. Nunca tinham visto aqueles números que teriam embasado a alegada medida de reciprocidade de Trump. Em pouco tempo, um jornalista descobriu a fórmula peculiar usada por Trump, que nada mais é do que um simples cálculo das importações dos produtos de um país em proporção ao superávit daquele mesmo país com os Estados Unidos, dividido por dois. Mas o absurdo e a falta de critério não pararam por aí. Cientistas da computação e ratos de Inteligência Artificial (IA) começaram a desconfiar de que a equipe de Trump recorreu ao ChatGPT ou a outra plataforma de IA para chegar à formula das tarifas. E com razão.

Vale, primeiro, entender a “lógica” por trás da fórmula que a Casa Branca usou para definir as tarifas de importação adicionais que foram anunciadas na quarta-feira 2. O cálculo, descoberto pelo jornalista James Surowiecki e depois confirmado por analistas do Wall Street Journal, começa com uma regra de três: o valor em dólar das importações multiplicado por 100 e então dividido pelo valor em dólar do superávit comercial. Chega-se, assim, à porcentagem que, segundo a tabela de Trump, refere-se às tarifas cobradas pelos países aos produtos americanos.

Trump disse que essa porcentagem também incluía critérios complexos como barreiras não tarifárias e impostos adicionais. Mas não é nada disso. É uma simples regra de três. Em seguida, para definir a tarifa “recíproca” adicional que os Estados Unidos passariam a cobrar de seus parceiros, a tal porcentagem foi dividida por dois.

Tomando como exemplo a China: o superávit comercial do país com os Estados Unidos, 295,4 bilhões de dólares, multiplicado por 100 e dividido pelas importações chinesas, 439,9 bilhões de dólares, é igual à proporção arredondada de 67%. Exatamente a porcentagem que a tabela de Trump apresenta como sendo “a tarifa cobrada dos EUA”. Dividido por dois, tem-se, aproximadamente, 34%, que é o valor da “tarifa recíproca” que será cobrada da China.

A Casa Branca divulgou depois uma fórmula aparentemente complexa para explicar seu critério, mas os matemáticos logo demonstraram que se tratava de uma tentativa de complicar o cálculo simples descrito acima. Uma simples e banal regra de três baseada nos números de importação e superávit, sem nenhuma relação com as tarifas efetivamente cobradas.

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A coisa ficou ainda mais feia quando alguns curiosos resolveram perguntar para serviços de IA, como ChatGPT, Gemini, Claude e Grok, qual seria a maneira mais “simples”  de resolver o déficit comercial dos Estados Unidos com outros países. As respostas saíram muito parecidas com a fórmula usada pela equipe de Trump para elaborar a tabela de tarifas recíprocas, ou seja, sugerindo, com algumas variações, dividir o superávit pelas importações. Em alguns dos testes feitos, o Claude e o Grok sugeriram dividir o valor por dois, para “moderar” a medida de reciprocidade. Exatamente como fez Trump.

É improvável que essas plataformas tenham se baseado no próprio anúncio de Trump para desenvolver suas respostas, pois elas não são alimentadas com informações em tempo real e as explicações sobre a fórmula usada por Trump ainda não estavam disponíveis na internet quando os primeiros testes de IA foram feitos, ainda no dia 2. A pergunta que fica é: teria a equipe de Trump — formada por gente que estudou o comércio exterior durante anos, conforme ele afirmou no dia do anúncio — perguntado à IA como resolver o problema do déficit comercial dos Estados Unidos? Se a resposta for “sim”, não é só a apresentação com cartolina que remete às práticas de estudantes do ensino fundamental em seus trabalhos de escola.

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