Os desafios da rede 5G após liberação para todo o território nacional
A infraestrutura precária retarda o acesso de muitos brasileiros à tecnologia que transforma o dia a dia
Em um país de dimensões continentais como o Brasil, a implementação da 5G, a quinta geração de rede de telefonia móvel, marca o início de uma nova era ao levar internet de qualidade para regiões remotas e até então excluídas da revolução digital. Com melhor conectividade, é possível ampliar o uso da tecnologia no campo, realizar consultas médicas a distância e aprimorar as condições de ensino, para citar apenas alguns exemplos. A 5G, contudo, só avança se houver infraestrutura adequada para tornar viáveis as ligações. Um projeto marcante para isso é a criação das chamadas infovias, “estradas digitais” com cabos de fibra óptica instalados nos leitos dos rios da Amazônia. As infovias são capazes de transportar alto volume de dados e, portanto, ampliar a oferta de banda larga em municípios de difícil acesso. O novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) prevê a implantação de 28 infovias no país, com investimento de 1,9 bilhão de reais. Até o momento, seis delas já foram entregues.
As infovias são o retrato da transformação que a 5G tem provocado no Brasil. Desde julho de 2022, quando a primeira antena de internet móvel da quinta geração foi instalada no país, o sinal mais veloz chegou a 589 dos 5 570 municípios brasileiros, permitindo que 28 milhões de pessoas acessem a tecnologia, a maioria delas habitantes das capitais ou das grandes cidades. Com esse grau de conectividade, passamos a ocupar a 45ª posição no ranking global de velocidade de download. É uma colocação modesta, mas que representa um considerável avanço em relação ao 80º lugar ocupado em 2021, quando apenas a 4G existia por aqui. A boa notícia é que deveremos avançar ainda mais nos próximos meses.
No início de dezembro, a tecnologia 5G foi liberada para todo o Brasil após a chegada da faixa de 3,5 GHz para os 190 municípios que ainda não tinham a cobertura. O desbloqueio da faixa de frequência, inicialmente previsto para o fim de 2026, chegou com catorze meses de antecedência em relação ao que estava previsto no cronograma oficial da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). “A antecipação é um marco a ser comemorado”, diz Paulo Tavares, líder da área de 5G da consultoria de gestão Accenture. Estar disponível não significa que as cidades terão, de fato, a nova tecnologia. Isso depende essencialmente da ampliação da infraestrutura. Um levantamento recente feito pela Conexis Brasil Digital, entidade que reúne as empresas de telecomunicações, revelou que apenas 1 019 cidades do país têm torres e antenas aptas para receber a rede avançada. Portanto, contar com cobertura irrestrita ainda é um sonho distante. “A modernização das leis municipais e a simplificação dos processos de licenciamento serão fundamentais para permitir a construção de infraestrutura adequada”, afirma Tavares.
O planejamento da 5G estabeleceu a expansão da tecnologia em fases, começando pelas grandes capitais. A ideia era gerar retorno financeiro mais rápido para as operadoras que investissem nessas regiões, o que ajudaria a financiar a expansão para outras cidades. Para acelerar a difusão e tornar a operação viável do ponto de vista econômico, outra solução apontada por especialistas é que as empresas adotem uma estratégia amplamente utilizada em diversos países: o compartilhamento de infraestrutura. De acordo com cálculos realizados pela Accenture, essa abordagem reduziria entre 30% e 40% o investimento inicial necessário para a criação de novas redes de conexão. A implementação da 5G representa um passo significativo rumo à inclusão digital e ao desenvolvimento econômico. Embora avanços importantes já tenham sido alcançados, ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir que os benefícios da tecnologia alcancem todos os brasileiros.
Publicado em VEJA de 13 de dezembro de 2024, edição nº 2923