O que Marfrig, GPA e Natura têm em comum
As três gigantes de seus respectivos setores estão anunciando vendas de ativos para equilibrar o caixa
O Grupo Pão de Açúcar, a Marfrig e a Natura estão se desfazendo de ativos. O GPA vendeu nos últimos dias 11 lojas, levantando mais de 330 milhões de reais para alavancar seu balanço. A Marfrig vendeu 16 unidades de abate bovino para a Minerva, em operação que pode chegar a 7,5 bilhões de reais. A Natura vendeu a marca de cosméticos de luxo Aaesop para a L’Oreal, em operação de 12,3 bilhões de reais. Ela explora ainda a possibilidade de se desfazer da The Body Shop.
Essas movimentações têm um objetivo central: gerar fluxo de caixa e combater o peso do endividamento. Para Max Mustrangi, sócio fundador da Excellance, empresa que atua reestruturação de empresas, a motivação por trás dessas aquisições e vendas está em reduzir a alavancagem financeira, ou seja, diminuir a dívida pendente. Além disso, também são uma tentativa de reforçar as reservas de dinheiro disponíveis, uma vez que as operações principais não conseguem gerar resultados positivos consistentes, intimamente ligados às condições atuais do mercado financeiro, que se mostra relutante em conceder linhas de crédito para atender à necessidade de capital de giro das empresas. “Essas manobras estratégicas não estão isentas de consequências. Muitas empresas estão se vendo em uma encruzilhada”, diz o especialista em reestruturação de empresas. “A empresa resolve seus desafios de curto prazo ao optar por essa estratégia, mas muitas vezes isso compromete suas perspectivas de longo prazo”, completa.
De fato, a Aesop era a joia da coroa da Natura, com altas taxas de crescimento. A The Body Shop, menos atrativa, foi comprada em 2017 por 900 milhões de dólares — dificilmente ela seria vendida hoje por mais de 500 milhões de dólares. Já no mercado do alimentos, a Marfrig perderá a segunda posição no mercado de bovinos, atrás apenas da JBS, para a Minerva, que aumentará sua capacidade de abate de gado em 44%. A situação do GPA não é menos dramática: no primeiro semestre, o grupo anunciou dívida líquida de 3 bilhões de reais e um Ebitda de apenas 1,1 bilhão de reais em 12 meses.