Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

O que há por trás da disputa entre Apple e Gradiente pela marca iPhone

Caso nos tribunais expõe o nó burocrático que emperra o ambiente de negócios no Brasil

Por Felipe Mendes Atualizado em 16 jun 2023, 10h31 - Publicado em 15 jun 2023, 19h00

No século XXI, nenhum outro dispositivo provocou impacto tão profundo na indústria tecnológica e na vida das pessoas quanto o iPhone. Ao apresentar o aparelho, em 9 janeiro de 2007, Steve Jobs foi premonitório. “De vez em quando, surge um produto revolucionário que muda tudo”, disse o lendário fundador da Apple. De fato, o dispositivo transformou quase tudo — de transações financeiras à forma como as pessoas se relacionam. Uma década e meia depois de seu lançamento, o iPhone está agora no centro de uma disputa jurídica que envolve, de um lado, a colossal empresa da maçã e, do outro, a debilitada companhia brasileira de tecnologia Gradiente. Mais do que um enrosco para os tribunais, o caso escancara o nó burocrático que emperra os negócios no Brasil.

Fundada pelo empresário Eugenio Staub, a Gradiente já viveu dias de glória, sobretudo nos anos 80, quando era referência na produção de telefones e televisores. Mais tarde, porém, passaria a enfrentar dificuldades. Em 2000, em meio a grave crise financeira, fez uma investida que, na época, não chamou atenção. A empresa pediu ao Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) o registro da marca Iphone. Sua ideia era lançar um modelo de celular, mas o projeto jamais seguiria adiante. E por uma razão: a demora excessiva do órgão para ceder à Gradiente o uso definitivo do nome Iphone.

Por azar do destino, a Gradiente acabaria atropelada pela Apple, que em 2007 lançaria o seu revolucionário produto. Em 2008, o INPI concedeu o registro da marca à companhia brasileira, mas aí já era tarde demais. Em 2012, as duas empresas passaram a engalfinhar-se na Justiça, e até agora o caso arrasta-se nos tribunais brasileiros. Atualmente, o destino da marca iPhone está nas mãos do Supremo Tribunal Federal, mas o julgamento foi suspenso após o ministro Alexandre de Moraes pedir vista do processo. Até agora, quatro ministros manifestaram seus votos, com empate de dois a dois.

arte apple gradiente

Continua após a publicidade

O INPI garante estar se modernizando para dar vazão mais célere aos pedidos de propriedade industrial. Presidente da autarquia entre 2019 e 2022, Claudio Vilar Furtado afirma que assumiu o órgão com uma fila de espera de 150 000 pedidos de patentes, mas assegura que resolveu 92% dos casos. “Só não foi mais do que isso porque muitas das patentes tinham referenciais antigos”, afirma. Seja como for, a verdade é que o Brasil está atrasado nessa corrida. Nos Estados Unidos, o tempo médio para o registro de uma marca é de 24 meses. Na China, dezoito meses.

A Gradiente espera a resposta dos tribunais para ganhar alguma sobrevida, quem sabe na forma de compensação financeira. “A empresa é um desses casos de marcas que foram muito bem em um ciclo de economia fechada e que sofreram depois da abertura da economia brasileira”, diz o consultor Alberto Serrentino, fundador da Varese Retail. “Algumas marcas que eram joias brasileiras acabaram incorporadas por empresas internacionais, como é o caso da Walita e da Arno. A Gradiente ficou independente e, com a revolução no mercado de telefonia, acabou perdendo espaço.” Na direção oposta, a Apple decolou, tornando-se cultuada no mundo inteiro. Ainda não há vencedor no embate jurídico entre as empresas, mas é certo que o iPhone continuará a escrever sua extraordinária história pelas mãos da Apple.

Publicado em VEJA de 21 de Junho de 2023, edição nº 2846

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.