O que explica os recordes no mercado de trabalho em meio a uma Selic de 11,25%?
País registrou 103,6 milhões de pessoas ocupadas em outubro, recorde da série histórica da Pnad, iniciada em 2012
Com 103,6 milhões de pessoas ocupadas, o Brasil vive um dos momentos mais promissores no mercado de trabalho em sua história recente. Nos últimos três meses, a população desocupada caiu para 6,8 milhões, levando a taxa de desemprego a 6,2%, a menor já registrada desde o início da série histórica, em 2012.
Os dados surpreendem, considerando que a taxa de juros, a Selic, está em 11,25% ao ano. Normalmente, juros elevados tendem a desacelerar a economia, encarecendo o crédito e reduzindo o consumo e os investimentos. No entanto, o mercado de trabalho tem sido sustentado por programas de transferência de renda e pelas recentes mudanças nas regras de reajuste do salário mínimo, que impulsionam o poder de compra e a demanda interna.
Segundo o economista Fernando de Holanda Barbosa, do FGV/Ibre, esse resultado está diretamente relacionado à expansão econômica. “A atividade econômica continua bastante acelerada. Vamos fechar o ano com um crescimento maior do que o previamente esperado”, afirma. Projeções indicam que o PIB brasileiro pode ultrapassar 3% em 2024. “Mais atividade econômica significa mais emprego e uma menor taxa de desemprego”, complementa Barbosa.
O aumento da atividade tem gerado novos postos de trabalho, especialmente nos setores de serviços e indústria. Vale ressaltar que o setor de serviços, responsável por cerca de 70% da composição do PIB, desempenha um papel central: quanto mais aquecido, maior a demanda por mão de obra.
Os rendimentos médios reais dos trabalhadores também têm sustentado essa dinâmica. À medida que a renda aumenta, a demanda por serviços cresce, exigindo mais contratações. Atualmente, o rendimento médio está em 3.255 reais, próximo de níveis recordes, e a massa de rendimentos atingiu 332,6 bilhões de reais, com um crescimento de 7,7% no ano. Esse cenário fortalece o consumo e impulsiona a demanda interna, mas também representa um risco para o controle dos preços, especialmente diante de uma inflação de serviços ainda elevada. A nova regra de reajuste do salário mínimo, que prevê aumentos acima da inflação, pode intensificar essa pressão em 2025. “Com a economia já operando próximo de sua capacidade, o impacto de um aumento generalizado nos salários, especialmente no setor público, pode ser inflacionário”, alerta Igor Cadilhac, economista do PicPay.
Para o próximo ano, a expectativa é de desaceleração econômica. O governo, que em 2024 conseguiu manter a economia em expansão por meio de estímulos fiscais, enfrentará desafios mais complexos em 2025. Com a margem para novas medidas de estímulo fiscal limitada e o endividamento público em alta, a política econômica estará sob forte restrição. “O governo poderá tentar novas iniciativas para aquecer a economia, mas é improvável que consiga repetir o crescimento de 2024”, prevê Cadilhac. A combinação de juros altos e um espaço fiscal reduzido deve frear o ritmo de expansão no próximo ano.