O que esperar do PIB nos próximos trimestres, segundo economistas
Especialistas analisam o que pode influenciar o desempenho da economia brasileira daqui para frente

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025 e 2,9% na comparação interanual. O resultado animou parte dos analistas, mas o mercado segue dividido sobre o que esperar do restante do ano.
Segundo Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos, o resultado foi robusto. “O PIB do Brasil cresceu 1,4% no primeiro trimestre e 2,9% em termos interanuais. Embora tenha ficado ligeiramente abaixo da nossa expectativa de 1,5%, as principais componentes já mostram recuperação em relação ao final de 2024”, afirmou.
Do lado da demanda, Fonseca destaca o consumo das famílias, que avançou 1,0% no trimestre, e os investimentos, que surpreenderam. “A formação bruta de capital fixo manteve ritmo vigoroso, com alta de 9,1% no 1º trimestre de 2025.” Ele ressalta ainda a pressão das importações, que cresceram 14% em 12 meses: “Isso indica que a forte demanda interna continua vazando para o exterior.”
Pelo lado da oferta, o desempenho do agro foi o grande destaque. “A agropecuária foi o grande destaque, com safra recorde de soja impulsionando um crescimento de 10,2% na variação interanual”, disse. Fonseca também citou a indústria extrativa como fator positivo e um avanço de 2,1% no setor de serviços, “ligeiramente abaixo do esperado”.
Mesmo com os desafios à frente, Fonseca mantém uma visão otimista: “De modo geral, os indicadores sinalizam uma economia sólida ao longo de 2025. Mantemos nossa projeção de crescimento do PIB em 2,5% neste ano.” Ele também aponta que amortecedores fiscais — como Minha Casa Minha Vida, pagamento de precatórios e isenção de IR — devem continuar sustentando a atividade até 2026. “Com esse viés altista, esperamos que os analistas revisem para cima suas estimativas de crescimento nas próximas edições do boletim Focus”, concluiu.
Jason Vieira, economista-chefe da gestora Lev, acredita que o desempenho do PIB dependerá fortemente dos desdobramentos fiscais e monetários. “O mercado está bem dividido para o final do ano. Existe projeção de 1,8%, 1,7% de crescimento do PIB, até 2,2%. O contexto agora depende muito do que vai acontecer nos últimos trimestres”, afirmou.
Segundo ele, há um cenário possível de retração consecutiva no segundo semestre. “Parte do mercado está colocando que pode haver até uma recessão técnica com dois trimestres negativos, um ali muito próximo da estabilidade, o terceiro, e o quarto negativo”, disse. Vieira atribui esse risco à combinação de juros altos e necessidade de corte nas despesas públicas. “Dado não só questões de política monetária, mas também de redução de gastos do governo que talvez sejam mais necessárias do que estamos mostrando agora.”
O economista também aponta a indefinição em torno do IOF como um fator adicional de incerteza. “Tudo vai depender um pouco da questão do IOF, de como vai ter o avanço do IOF. O governo jogou todas as suas cartas ali na expectativa de que possa ter gastos maiores e ao mesmo tempo o Congresso já está se colocando mais reticente em conseguir avançar com essa pauta.”
Diante disso, ele prevê que o governo pode ser forçado a rever sua postura fiscal. “O governo provavelmente vai ter que realmente parar de gastar, o que é o ideal, na verdade, no atual contexto.”
Mesmo assim, o agro deve continuar tendo papel central no desempenho do PIB. “Agora você tem uma observação no curto prazo que ainda é o agro puxando, porque nós tivemos indústria negativa e serviços baixos. O agro vai continuar a puxar em partes do ano, mas a partir da metade do ano você tem questões de safra que já pode não ajudar tanto quanto se esperava.”
Já Rodrigo Marcatti, CEO da Veedha Investimentos, avalia que o resultado do primeiro trimestre veio dentro do esperado, impulsionado principalmente pelo agronegócio. “PIB veio super em linha com o esperado, 1,4% no primeiro tri, bastante impulsionado pelo agro, indústria recuando, o que mostra que política monetária restritiva tem feito efeito maior, serviços avançaram pouco”, afirmou.
A perspectiva para os próximos meses, segundo Marcatti, também é de perda de fôlego. “A gente espera desaceleração no próximo trimestre, já por conta da política monetária”, disse. Ainda assim, ele acredita que o crescimento do ano deve ser positivo. “O PIB desse ano deve encerrar acima de 2%, o agro impulsionou, mas a gente vê desaceleração ocorrendo nos próximos trimestres.”
Para ele, os juros altos e o encarecimento do crédito continuarão pressionando a economia. “Taxa de juros deve permanecer alta, IOF encarecendo mais crédito, se nada mudar ajudará ter efeito adicional na contração da economia.”
O CEO na consultoria SOUZAMAAS, Bruno Carlos de Souza, também reforça a necessidade de cautela no otimismo com base nos número do primeiro trimestre. “Existe previsão de uma possível desaceleração no segundo semestre, devido às condições financeiras mais restritivas e à política monetária contracionista”, diz.
Especialista na FIPECAFI, Humberto Aillon, prevê crescimento até de 2,15% do PIB em 2025 e tem expectativa positiva para os próximos meses. “Especialmente pela sazonalidade do agro, pela continuidade da mão de obra aquecida e demanda por serviços, especialmente de tecnologia”, diz. Na contramão, ele diz que setor industrial deve ser negativamente impactado pela permanência das altas taxas de juros e frear novos investimentos. Em linhas gerais, permanece a expectativa de crescimento do PIB em 2025 acima de 2,15%.