O pior resultado de uma empresa que o Deutsche Bank viu em 20 anos
Relatório da gigante de entregas FedEx registrou um recuo de 23% no trimestre; resultado porém alerta sobre desaceleração trazida pelo temor da recessão
Analistas de Wall Street não mediram palavras ao discutir a previsão da FedEx para o trimestre atual — e sua retirada da orientação para o ano inteiro. Os analistas do Deutsche Bank classificaram o relatório como o pior que já viram em duas décadas.
“A FedEx anunciou ontem à noite o conjunto mais fraco de resultados que vimos em relação às expectativas em nossos 20 anos de análise de empresas”, disseram economistas do banco em nota aos clientes publicada pela Bloomberg.
A gigante de entrega de pacotes disse em comunicado na noite de quinta-feira que espera que o lucro do primeiro trimestre, excluindo alguns itens, seja de 3,44 dólares por ação, ou cerca de 33% abaixo da estimativa média dos analistas de 5,10 dólares. Além disso, a FedEx retirou sua previsão de lucros para 2023, dizendo que as tendências macroeconômicas “pioraram significativamente”, tanto nos EUA quanto na escala global e provavelmente se deteriorarão ainda mais, alimentando temores de um declínio generalizado dos lucros.
Segundo a Bloomberg, pelo menos quatro analistas do lado da venda que cobrem as ações reduziram suas recomendações na FedEx na sexta-feira, já que as ações caíram até 24% antes de terminar o dia em queda de 21%. O analista da Robert W. Baird & Co., Garrett Holland, resumiu as opiniões, chamando-o de “trimestre feio”. A perspectiva sombria levou as ações da rival United Parcel Service (UPS), da gigante do comércio eletrônico Amazon.com e de empresas de entrega europeias para o vermelho.
“O aviso da FedEx veio como um tapa. É um sinal sólido de que a economia começou a desacelerar”, disse Ipek Ozkardeskaya, analista sênior da Swissquote. “Este é certamente o primeiro de uma série de avisos que podemos ver para os próximos trimestres.”
A FedEx não é a única empresa a alertar que o cenário macroeconômico provavelmente afetará os resultados. O chefe financeiro da General Electric disse na quinta-feira que os desafios da cadeia de suprimentos estão pesando em seu desempenho no terceiro trimestre, enquanto alguns dos maiores bancos de Wall Street esperam quedas profundas nas taxas de bancos de investimento para o trimestre atual, com os investidores ainda assustados com a inflação, aumentos de taxas e possível recessão.
Na Europa, os alertas de lucro já começaram a chegar. O conglomerado britânico Associated British Foods alertou que o lucro no próximo ano fiscal será menor, já que o aumento dos custos de energia e um dólar mais forte pesam em seu negócio de roupas Primark, enquanto a fabricante sueca de eletrodomésticos Electrolux disse que os lucros cairão “significativamente” no terceiro trimestre em meio à rápida aceleração da inflação e à baixa confiança do consumidor.
Esses sinais ameaçadores já levaram os analistas a moderar as expectativas, com os rebaixamentos semanais dos lucros superando as atualizações por cerca de quatro meses nos EUA, de acordo com um índice do Citigroup. Mas ainda pode haver um longo caminho a percorrer para redefinir as expectativas – as estimativas de ganhos dos analistas para as empresas americanas estão perto de recordes, apesar de uma queda de 18% para o índice S&P 500 este ano.