O impacto do plano de barateamento no mercado de veículos usados
Plano de incentivo fiscal do governo não surtiu o efeito esperado de impulsionamento da indústria, no entanto, trava os seminovos

O plano anunciado pelo governo de barateamento de veículos não tem surtido o efeito esperado. Em maio, antes do anúncio do programa, a indústria cresceu 0,3% após ter registrado retração de 0,6% em abril, conforme dados divulgados nesta terça-feira, 4, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A ver os dados de junho, mas a reação é tímida e a expectativa é que o segundo semestre seja mais fraco do que o primeiro.
Apesar do resultado morno da indústria, não há previsão de incentivo a um mercado que segue às mínguas: o de carros usados. As vendas no setor, inclusive, desaceleraram após o programa aos veículos novos. “Por um curto período acreditamos que tenha atravancado, sim. Principalmente com relação aos modelos que competem com os contemplados com os descontos”, afirmou Enilson Sales, presidente da Federação dos Revendedores de Veículos Usados (Fenauto). “Nós achamos que as medidas foram apenas para favorecer as montadoras. Mas, no final das contas, a fatia de consumidores beneficiada foi mínima, para não dizer pífia, e o acréscimo na venda de carros zero km, idem”, prosseguiu.
Em junho, primeiro mês do programa de incentivo fiscal, foram licenciados 179,6 mil carros e comerciais leves, um aumento de 8,57% na comparação com junho de 2022 e incremento de 7,98% em relação a maio. Os dados são da Bright Consulting, consultoria especializada nesse mercado.
Ainda assim, as vendas não têm sido suficiente para alavancar a atividade econômica. Apesar do crédito adicional, a Volkswagen anunciou uma parada temporária em várias de suas fábricas, como Taubaté (SP), São Bernardo do Campo (SP), São José dos Pinhais (PR). A Chevrolet também informou um período de inatividade.
Por isso, o governo anunciou a liberação de mais 300 milhões de reais para o programa de desconto para carro zero para empresas. O montante, entretanto, já está perto do fim. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, 710 milhões já foram utilizados até esta terça-feira. “Agora esse movimento visa tentar beneficiar as locadoras. Mas o elo da cadeia automotiva que realmente interage fluentemente com o setor de consumo é o de veículos seminovos e usados, que não tiveram nenhuma atenção nessas medidas” lamentou Sales.
Foram 13,6 milhões de veículos usados comercializados em 2022, contra 3 milhões de carros novos. “No nosso entender, as medidas não atingiram o objetivo de movimentar o mercado automobilístico como um todo”, completou.
Os recorrente ataques do presidente Lula ao patamar de juros do Banco Central, em 13,75%, passam muito por essa inatividade industrial, mesmo após o tom mais ameno do Comitê de Política Monetária (Copom) na ata da última reunião, na semana passada, e o aceno para um possível corte na Selic em agosto. Nos últimos dias, Lula afirmou disse que não existe hoje nenhuma explicação “econômica, sociológica ou filosófica” para que a taxa de juros esteja em 13,75%. “Esse cidadão [Roberto Campos Neto] vai ter que pensar e o Senado vai ter que saber como lidar com ele”, disparou. Campos Neto foi convidado pelo Senado a prestar esclarecimentos sobre a Selic. A sabatina será em agosto.