O impacto do conflito no Oriente Médio no valor do petróleo e na inflação
Acirramento das tensões na região eleva preço do barril de petróleo no mundo, o que pode pressionar a inflação em nível mundial
A escalada das tensões em Israel tem estimulado um avanço no preço de negociação do petróleo nesta segunda-feira, 9. Isso porque o Oriente Médio, onde se deflagra o conflito, corresponde por mais de 60% da produção de petróleo no mundo e uma guerra na região deve acirrar os ânimos entre alguns dos principais produtores, como a Arábia Saudita, o Iraque e o Irã. Especialistas apontam que um eventual encarecimento da commodity pode elevar a inflação em nível global.
Neste momento, o preço do petróleo do tipo brent é negociado 88 dólares o barril, alta de 4% no dia. “O ataque do Hamas e a reação de Israel criaram uma instabilidade maior no Oriente Médio, que é a principal região produtora de petróleo no mundo. Essa situação causou aumento imediato no preço. O maior risco é haver restrições às exportações ou dificuldades para os navios petroleiros cruzarem o Estreito de Ormuz, que fica na saída do Golfo Pérsico. Nesse caso, os preços poderão subir ainda mais, pressionando a inflação e o crescimento econômico”, reforça Decio Oddone, CEO da Enauta e ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Enquanto Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, promete uma vingança “implacável” ao atentado realizado pelo grupo militante palestino Hamas, o presidente do Irã, Ebrahim Risi, ligou para os chefes do Hamas e da Jihad Islâmica e afirmou que “a vitória será palestina”. Com Israel e Irã em posições opostas, a Arábia Saudita, que nos últimos meses se aproximou dos Estados Unidos e de Israel, fica em posição desconfortável. “Precisa ver como esse conflito vai se escalar. É uma situação completamente inédita e inusitada, com vários atores e variáveis. Não há expectativa de uma saída diplomática nessa situação”, declara o especialista David Zylbersztajn, ex-diretor geral da ANP e membro do conselho da Vibra Energia. “Como é a região onde se circula mais petróleo, há o risco de afetar o fornecimento do mercado, sim.”
Inimigo em comum de EUA e Israel, o Irã tem se beneficiado de um ‘afrouxamento’ nas sanções impostas pelos americanos recentemente, o que fizera com que o país aumentasse seu patamar de produção de petróleo. As exportações do país aumentaram de 1,35 milhão de barris por dia (bpd) em abril para 1,79 milhão de bpd em agosto, o maior nível desde novembro de 2019, segundo dados da Kpler. O efeito é expressivo e se dá como alternativa ao petróleo russo, afetado com as sanções impostas ao país europeu após anunciar guerra contra a Ucrânia. Outros mercados, como o Brasil, beneficiaram-se dessa substituição, o que fez com que o preço do petróleo ficasse em patamares mais amenos.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse em evento nesta segunda-feira que está acompanhando os desdobramentos do conflito e que tentará “mitigar a volatilidade para manter os preços estáveis”.