O gigante do norte: Como o Grupo Mateus desafia gigantes do setor
Dominante no NE e N, rede soma 277 unidades e receitas de 32 bilhões de reais, consolidando-se como o terceiro do setor de supermercados

Em um setor da economia com concorrentes a cada quarteirão nas grandes cidades, margens de lucro apertadas e no qual até gigantes globais tropeçam, o maior fenômeno de crescimento no mercado de varejo do país avança longe dos principais centros urbanos. Controlador de nada menos que 277 lojas divididas entre atacarejos, supermercados, mercadinhos, empórios e conveniências, o Grupo Mateus é uma marca massificada no Norte e Nordeste, mas sem nenhuma presença física no restante do Brasil. Um caso intransferível de sucesso regional. No ranking da Associação Brasileira de Supermercados, o grupo já é o terceiro maior do setor, à frente do Pão de Açúcar e atrás apenas de Carrefour e Assaí. “Nosso foco está firme nessas duas regiões”, afirma o fundador e presidente Ilson Mateus, 62 anos, ex-garimpeiro que iniciou seu negócio em Balsas, no interior do Maranhão, vendendo fardos de refrigerantes acomodados no porta-malas do seu carro (leia a entrevista). O conglomerado maneja atualmente um arco de produtos que vão de arroz e feijão a eletroeletrônicos. Marcas para a segmentação de público, como a Mateus Mix, de atacarejo, e a Spazio Mateus, para a renda mais alta, fazem com que suas gôndolas sejam alcançadas por todas as classes sociais.
No conjunto, as bandeiras do grupo sinalizam uma verdadeira máquina de ganhar dinheiro. As receitas atingiram 32 bilhões de reais no ano passado, com lucro bruto de 7 bilhões, quase 20% acima do exercício anterior. O ganho líquido foi de 1,3 bilhão. Listada na B3 desde 2020, a companhia é financeiramente disciplinada. O endividamento, superior a 1,3 bilhão de reais em meados do ano passado, foi reduzido para 600 milhões agora. “Em sua trajetória inicial, o Grupo Mateus ocupou o espaço que as grandes redes deixaram escapar, o da presença física nas cidades pequenas e médias”, aponta o administrador de empresas Renato Avó, sócio da consultoria 360 Varejo, especializada no setor. “O crescimento veio a partir dessa base pulverizada e ganhou tração com o IPO.” A abertura de capital gerou 4,3 bilhões de reais à companhia, fazendo com que ela se tornasse a segunda maior captação das 22 realizadas em 2020. Para este ano, um relatório do Banco do Brasil Investimentos projeta alta de até 49% nos papéis da varejista.

O primeiro endereço físico com a marca Mateus na porta foi aberto em 1986, com os recursos obtidos pelo fundador graças à venda de refrigerantes. Em Balsas, a mais de 700 quilômetros da capital maranhense, a mercearia de 50 metros quadrados segue aberta. Em janeiro deste ano, inaugurações simultâneas em Ananindeua, segundo município mais populoso do Pará, e Marituba, próximo a Belém, acrescentaram, cada uma delas, mais de 3 000 metros quadrados de cobertura à rede.
No final do ano passado, o Grupo Mateus comprou a rede Novo Atacarejo, com sede em Pernambuco e 32 pontos de venda no Nordeste, adicionando 378 milhões de reais de receitas anuais ao negócio. É rotina do grupo a inauguração de até cinco novas lojas próprias em um mesmo dia, em cidades diferentes, festejadas com balões coloridos e bandas de música. Faz parte da estratégia abrir cerca de cinquenta novos pontos de venda a cada ano.

O alto desempenho ganha relevância frente ao cenário atual do setor supermercadista. O segmento é disputado por mais de 90 000 empresas. A combinação de juros elevados e inflação tem acarretado dificuldades para operações de diferentes portes. Há rumores sobre uma fusão entre as redes Pão de Açúcar e Oxxo. O grupo St Marché, dirigido ao público A, está em processo extrajudicial de recuperação. O Carrefour pretende fechar o capital, e, no início desta década, o líder global Walmart encerrou operações no Brasil, insatisfeito com o desempenho aqui. As margens de lucro são estreitas, próximas de 2% nas lojas menores e de até 7% no atacarejo, calcula a consultoria 360 Varejo. “Com seu mix amplo de lojas, o Grupo Mateus consegue manter equilíbrio frente a oscilações”, diz Renato Avó. Nas atuais condições de temperatura e pressão do mercado varejista de alimentos, o consenso entre os analistas é de que a mercearia aberta por Ilson Mateus, 39 anos atrás, seguirá em sua trajetória de crescimento.
Publicado em VEJA, abril de 2025, edição VEJA Negócios nº 13