O flerte malsucedido de Paulo Guedes com Gilberto Kassab
Chefe da Economia defendeu nome de ex-ministro de Lula para a Casa Civil para dar vazão à agenda de reformas e aglutinar apoio à reeleição de Bolsonaro
A ascensão do senador Ciro Nogueira, expoente do Centrão, a ministro da Casa Civil não foi a primeira, tampouco a segunda, indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes, para o posto. Guedes defendia desde o início do governo que um “político de carreira” estivesse na chefia do ministério. O chefe da Economia entendia que, com um profissional da política no lugar do general Luiz Eduardo Ramos, teria maior facilidade para dar vazão à agenda de reformas no Congresso. Em primeiro lugar, ainda em 2019, sugeriu ao presidente Jair Bolsonaro o nome de seu então secretário de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, graças à atuação célebre na articulação pela aprovação da reforma da Previdência. Deu no que deu. Marinho foi presenteado com o Ministério do Desenvolvimento Regional e tornou-se um dos principais adversários de Guedes no governo, graças à sua inclinação pelo aumento dos gastos com obras públicas que tanto desagrada o ministro da Economia.
Depois, Guedes imbuiu-se da missão de abrigar Gilberto Kassab (PSD-SP), ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, no posto. Ele vem lamentando que o ex-prefeito de São Paulo tem bastante experiência política e poder de aglutinação. Seria um nome importante, na avaliação do ministro, para compor o time que trabalhará pela campanha de reeleição de Bolsonaro. Era questão de tempo, segundo Guedes, para que Kassab embarcasse em outra candidatura. Bolsonaro ouviu e o resto é história. Kassab embarcou com gosto na potencial candidatura do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), à presidência da República, para a insatisfação de Guedes. Kassab vem articulando pela filiação de Pacheco ao PSD e apostado que o tom conciliador do senador possa elevá-lo a potencial nome da terceira via nas eleições de 2022.
Como mostra matéria na edição de VEJA desta semana, a indicação de Ciro Nogueira tem o dedo do ministro da Economia. Seria uma forma de alimentar os anseios do Centrão por mais participação no governo e, de quebra, ainda aplainar os ânimos no Senado, para que a agenda de reformas possa avançar em uma Casa que, segundo o ministro, bloqueava as discussões avançadas na Câmara, sob a batuta do seu presidente, Arthur Lira (PP-AL), aliado do governo. O problema é que não dá para manter os dedos sem perder alguns anéis. No final das contas, a solução encontrada pelo Posto Ipiranga foi realizar a cisão do antigo Ministério do Trabalho e Previdência de seu potentado administrativo e entregá-lo a Onyx Lorenzoni. Nos cálculos de Guedes, foi um mal menor.