O etanol subiu o suficiente para ser menos competitivo que a gasolina?
Biocombustível deixou de ser competitivo em todo o país e não apresenta vantagem no consumo

Principal substituto da gasolina nos motores flex, o etanol não apresenta atualmente vantagem para o consumidor em nenhum estado brasileiro, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Seguindo a tendência de aumento das últimas semanas, entre 17 e 23 de abril, o preço do combustível cresceu 4,8% nos postos do país.
Fatores como problemas logísticos e o aumento da demanda do combustível, desproporcional à oferta, foram os principais motivos. O diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, explica que no mês passado houve uma demanda muito alta por combustíveis para motores de combustão interna, como a gasolina e etanol, com crescimento acima de 10%. A oferta, por outro lado, não acompanhou. “Março foi o segundo mês em que mais se vendeu etanol no período de abril de 2021 a março de 2022. A oferta estava restrita e a logística encareceu esse produto. Na primeira quinzena de abril a safra foi fraca, muitas usinas atrasaram o início da safra. O preço subiu expressivamente no mês de março porque o consumidor migrou de vez da gasolina para o etanol e a oferta não era suficiente para manter o nível de preço’’, avalia Rodrigues.
Na safra de 2021/2022, na região Centro-Sul, a Unica aponta para a redução de 13,36% na produção de etanol de cana-de-açúcar em relação à safra anterior, segundo relatório técnico. A cana-de-açúcar é a principal matéria-prima do etanol. A redução na produção levou à diminuição na oferta do etanol, e, consequentemente, ao aumento dos preços.
Outro fator relevante é a política de preços da Petrobrás. Apesar de a gasolina e do etanol terem matéria-prima e cadeias produtivas diferentes, o preço de um combustível impacta diretamente no outro. Com a alta da gasolina, o etanol hidratado é o produto primário na linha de substituição. Com aumento da demanda e uma oferta prejudicada, o preço sobe.
Desvantagem para gasolina
Comparativamente, o preço médio da gasolina ficou em 7,270 reais por litro na semana passada, enquanto o preço do litro do etanol ficou em 5,496 reais nos postos. O preço mais baixo não apresenta necessária vantagem, pois a gasolina rende mais que o álcool. Seguindo o padrão de análise do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), o litro do etanol rende cerca de 70% da mesma quantidade de gasolina.
Na prática, apesar de hoje a gasolina ser mais cara em 1,174 real, a diferença de 30% no rendimento por litro fala mais alto e o etanol não apresenta melhor vantagem comparativa para o consumidor. Dentre os combustíveis mais comercializados, seguindo a média dos estados e do Distrito Federal, a gasolina hoje é a melhor opção na relação custo-benefício.
Tendência para os próximos meses
A nova safra da cana-de-açúcar (2022/23) começou em abril. O período de entressafra (dezembro-março), que no ano passado foi um dos motivos da alta de preços do etanol, não foi neste ano determinante para o aumento no valor final do combustível.
Antes da alta nas últimas semanas, o preço do etanol havia apresentado baixa. “De novembro a início de março, em pleno período de entressafra, o preço do etanol caiu mais de R$ 1 por litro (para o produtor)’’, observa Rodrigues.
Depois dos problemas logísticos na oferta recente, a Unica já identificou melhorias na produção desta segunda quinzena de abril. “Considerando a bolsa BM&F ou os preços que a Esalq vai divulgar neste final de semana (Indicador ESALQ/BM&FBovespa), já é possível ver que o preço do etanol caiu 0,50 centavos ao produtor, agora vai ser uma questão de se vai chegar ou não o mais rápido possível ao consumidor’’, avalia o diretor técnico.
Com uma nova safra e uma oferta regular, o preço vai depender da demanda. Se não houver crescimento expressivo da demanda, de modo que a oferta seja relativamente maior, o preço tende a cair.