O efeito do pacote eleitoral de Bolsonaro na indústria
Produção industrial subiu 0,3% em maio; segundo o IBGE, recursos do FGTS e adiantamento do 13º do INSS ajudaram a impulsionar consumo e produção
A produção industrial apresentou variação positiva de 0,3% na passagem de abril para maio, quarto resultado positivo consecutivo – fevereiro (0,7%), março (0,6%), abril (0,2%) –, acumulando nesse período alta de 1,8%. Mas isso não foi suficiente para eliminar o recuo de 1,9% registrado em janeiro e, por isso, o saldo é ligeiramente negativo neste ano, em -0,1%. Os dados foram divulgados nesta terça-feira, 5, pelo IBGE. O resultado do mês reflete esforços do governo de Jair Bolsonaro para aumentar o consumo, liberando benefícios a meses das eleições. Ao final de maio, o Ministério do Trabalho e Previdência autorizou o início dos saques de até 1.000 reais do FGTS e o adiantamento do 13º salário para aposentados e pensionistas do INSS.
“Isso pode estar trazendo algum impacto positivo para o setor industrial, além da evolução no mercado de trabalho com a redução da taxa de desocupação. São fatores que devem ser considerados para entender o comportamento positivo da indústria nesse momento” analisa André Macedo, gerente da pesquisa industrial mensal.
As liberações dos recursos, anunciadas em março e com início no fim de maio, foram o pontapé inicial do pacote de benesses de olho em outubro de 2022. Ao todo, 86 bilhões de reais dessas ações foram injetados até o fim de junho. A partir de agosto, outros 41 bilhões de reais – esses vindos de estouro no teto de gastos e não de adiantamento de despesas – também devem entrar na economia, com o aumento do Auxílio Brasil e os vouchers para taxistas e caminhoneiros.
Com mais dinheiro circulando, em maio, três das quatro grandes categorias medidas pela Pesquisa Industrial Mensal ficaram no positivo, assim como 19 das 26 atividades industriais pesquisadas apontaram avanço na produção.
Na comparação com o período pré-pandemia, o setor industrial ainda se encontra 1,1% abaixo. Também está 17,6% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011. “O setor industrial ainda tem um espaço grande a ser recuperado frente a patamares mais elevados da série histórica. Ainda permanecem a restrição de acesso das empresas a insumos e componentes para a produção do bem final e o encarecimento dos custos de produção. Várias plantas industriais prosseguem realizando paralisações, reduções de jornadas de trabalho e concedendo férias coletivas, com a indústria automobilística exemplificando bem essa situação nos últimos meses.”, diz Macedo.
Entre as atividades, as influências positivas mais importantes foram assinaladas por máquinas e equipamentos (7,5%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (3,7%), com ambas voltando a crescer após recuarem no mês anterior: -3,1% e -4,6%, respectivamente. “Essas duas atividades vinham de queda nos meses anteriores. No setor de máquinas e equipamentos observa-se comportamento positivo em máquinas para indústria, agricultura e construção. Já na atividade de veículos automotores destacam-se os impactos positivos em automóveis, caminhões e autopeças”, diz o gerente da PIM.
Outras contribuições positivas relevantes sobre o total da indústria vieram de produtos alimentícios (1,3%), de couro, artigos para viagem e calçados (9,4%), de máquinas, aparelhos e materiais elétricos (5,5%), de outros equipamentos de transporte (10,3%), de produtos diversos (9,0%), de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (7,5%) e de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (3,6%).
Por outro lado, entre as sete atividades com redução na produção, indústrias extrativas (-5,6%) e outros produtos químicos (-8,0%) exerceram os principais impactos em maio de 2022, com ambas eliminando parte do ganho acumulado no período fevereiro-abril de 2022: 6,4% e 12,0%, respectivamente. “As duas atividades vinham de uma base de comparação mais alta, após três meses de resultados positivos em sequência. Mas em maio os três principais itens do setor extrativo – petróleo, gás e minério – tiveram queda”, completa Macedo.
Entre as grandes categorias econômicas, ainda em relação a abril de 2022, bens de capital (7,4%) e bens de consumo duráveis (3,0%) tiveram as taxas positivas mais acentuadas em maio de 2022, com ambas voltando a crescer após recuarem em abril: -6,8% e -5,3%, respectivamente. O setor de bens de consumo semi e não duráveis (0,8%) também cresceu, mas com ritmo abaixo do verificado no mês anterior (2,3%).
Por outro lado, o segmento de bens intermediários (-1,3%) apontou a única taxa negativa em maio de 2022, interrompendo, dessa forma, três meses consecutivos de avanço na produção, período em que acumulou expansão de 3,8%.