O copo meio cheio (e meio vazio) de Alckmin na economia
Vice-presidente e ministro da Indústria aposta no processo de queda de juros para compensar safra agrícola mais fraca em 2024

O dramaturgo Ariano Suassuna dizia que gente otimista demais era ingênua e, portanto, tola, mas que os pessimistas, por outro lado, eram uns chatos. Bom mesmo, para Suassuna, era ser “realista esperançoso”. Pode-se dizer que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) é um otimista contido, dividido entre boas e más previsões para a economia brasileira em 2024. “O copo está meio cheio e meio vazio: a safra agrícola não deve desempenhar como o ano passado, mas o processo de queda de juros deve reaquecer a economia”, afirmou durante evento com empresários realizado na segunda-feira, 4, na Galapagos Capital, em São Paulo.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima que o produto interno bruto (PIB) do agronegócio neste ano irá cair até 2%, com o setor enfrentando redução de preços de commodities agrícolas e de insumos para a produção. Em 2023, a safra da agropecuária foi recorde e puxou para cima o resultado de toda a economia, ao crescer 15% em relação ao ano anterior. “Nós temos a sorte de ter uma vantagem competitiva natural e um empresário rural competidor e que gosta de tomar riscos, mas logística, financiamento e sustentabilidade são desafios”, disse Paulo Sousa, presidente da Cargill, durante o evento.
Apesar da previsão negativa para o agronegócio, o setor segue puxando a economia. “Se a nossa agricultura é a mais competitiva do mundo, temos que agregar a indústria nisso”, disse Alckmin.
O vice-presidente lamentou ainda o que chamou de “desindustrialização precoce”, fruto de uma histórica baixa taxa de investimentos (ao redor de 16,5% do PIB, muito menor do que os pares sul-americanos) e de um câmbio pouco competitivo para a indústria. “O dólar entre 4,90 e 5 reais é competitivo para nós.”
Alckmin ainda destacou a rodada de investimento que montadoras estão anunciando no país. Nesta terça-feira, 5, a Toyota anuncia 11 bilhões de reais no Brasil. No total, já são cerca de 55 bilhões de reais anunciados pelo setor neste ano. A expectativa é que esse valor chegue a 100 bilhões de reais até 2029. “Por que montadoras estão anunciando investimento? Por que estamos dando previsibilidade.”