O ‘álibi’ de Luciano Hang contra responsabilidade em atos golpistas
Empresário reitera que não participou de manifestações antidemocráticas, mas relatório da PRF teria apontado sua ligação com bloqueios em Santa Catarina
Com o nome relacionado por suposto financiamento das manifestações antidemocráticas que ocorrem nas estradas do país nas últimas semanas, o empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas Havan, disse nesta sexta-feira, 11, que tem “provas” de que não participou nem endossou os atos. Na última quarta-feira, 9, uma reportagem da agência de notícias Pública divulgou que o nome do empresário foi mencionado em relatório da Polícia Rodoviária Federal (PRF) sobre as interrupções nas rodovias. De acordo com o documento obtido pelo portal, caminhões a serviço da Havan foram enviados deliberadamente para os bloqueios – contradizendo Hang, que negou sua participação nos protestos contra a derrota de Jair Bolsonaro (PL) nas urnas e a favor de uma “intervenção militar” no poder público.
Durante os bloqueios, manifestantes se organizaram próximos às unidades da rede, com direito a música, churrasco e bebidas. Segundo a empresa, a mobilização em suas unidades ocorreu de “forma espontânea”. No comunicado divulgado nesta sexta-feira, Hang chama a reportagem da Pública de “mentira” e usa como álibi uma gravação de câmeras de segurança em que manifestantes surgem em frente a um caminhão a serviço da empresa e obriga o motorista a cruzar o veículo em uma rodovia, em 31 de outubro, no munícipio de Barra Velha (SC). “No mesmo instante, o motorista avisou à empresa por meio de mensagens e foi orientado a acionar a polícia. Inclusive, um boletim de ocorrência foi registrado junto às autoridades competentes”, informou a assessoria de imprensa da Havan.
A Havan reafirmou que Hang não participou dos manifestos, alegando que as 174 lojas de departamentos da rede funcionaram normalmente em todos os dias dos atos golpistas, além de reiterar que o empresário tem se dedicado, desde 30 de outubro, exclusivamente às atividades da empresa. Entretanto, a reportagem da Pública descreve que, em Palhoça (SC), apoiadores de Bolsonaro começaram a se reunir em uma loja da rede logo depois de o resultado eleitoral ter se concretizado. Durante os dias seguintes, funcionários da unidade teriam fornecido, segundo o texto, “cadeiras e bancos de plástico para os manifestantes, além de liberar os banheiros, energia elétrica para o som e o espaço do estacionamento”. Diante de sua rápida organização e disseminação, o poder público suspeita que os atos tenham sido fruto de um esquema de empresários que sustentaram o movimento com doações em dinheiro e mobilização por redes sociais.
Em entrevista a VEJA antes do primeiro turno das eleições, Hang disse: “Vou repensar a minha vida se uma desgraça (a vitória do PT) dessa acontecer. Eu não me vejo mais investindo no Brasil se a esquerda voltar. Sei que se a esquerda voltar não sairá mais do poder, como aconteceu em outros países”. O empresário também ameaçou sair do país se Bolsonaro perdesse as eleições.