O alerta de Gustavo Franco, ex-BC, sobre riscos da ‘nova base governista’
Articulação do governo eleito com aliados sem vinculações históricas com a reponsabilidade fiscal pode levar o país ao caos, diz economista

O ex-presidente do Banco Central durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, Gustavo Franco, apontou para os riscos da nova base governista do governo eleito que vem se desenhando antes mesmo da posse, a começar pela articulação de aliados para aprovação da PEC de Transição, proposta que prevê estouro por dois anos do teto de gastos, ampliando o teto de gastos do governo em mais de 145 bilhões de reais.
“Esse alerta precisa ser feito, pois a coalizão que se desenha, construída a partir de várias vertentes do chamado “Centrão” – inclusive incorporando o atual presidente da Câmara, o deputado Artur Lira –, não tem “vinculações históricas”, ou “associação programática”, com a responsabilidade fiscal”, escreveu o ex-BC e sócio fundador da Rio Bravo, na carta mensal estratégica da corretora.
Franco alertou para a repetição de um cenário vivenciado há décadas atrás quando o Brasil passava pela redemocratização após a queda do regime militar. “O grande risco é o de Nova República, e que desponta todas as vezes que se ouve a palavra “governabilidade”. Em 1985, este era o principal álibi para a irresponsabilidade, e do qual resultou a hiperinflação”, escreveu na carta. Franco lembra que a Nova República começou com inflação em 100% ao ano e terminou com 82% ao mês, em março de 1990 com o Plano Collor. “A irresponsabilidade fiscal, sobretudo quando enrolada na bandeira da governabilidade e da defesa da democracia, pode nos levar ao caos”.
Segundo o ex-BC, uma PEC generosa como essa também tende a afastar o Executivo de um retorno ao governo nos próximos anos. “O Legislativo compreende bem essa lógica e sabe como fazer para cobrar caro e parcelado pela sua parceria. É nesse contexto que se dá a escolha do novo ministro da Fazenda, e por si só, essa articulação já o esvazia”, observa.
Franco acredita que o eleito para comandar a pasta da Fazenda – uma da mais aguardadas pelo mercado – deve seguir a lógica do parlamentarismo, abandando o “tácito e incontroverso do conceito de Posto Ipiranga, e o retorno do desenho clássico dos ministérios econômicos”. O ex-BC ainda atribui como ‘natural’ que o mercado financeiro reaja mal ao enfraquecimento e divisão da área econômica, “especialmente no contexto de uma eleição que não tratou de economia e de um governo que começa, inclusive antes da posse, tirando férias da responsabilidade fiscal”.