
Os extensos estudos sobre desigualdade de gênero e a compreensão do lugar que as mulheres ocupam no mercado de trabalho deram à historiadora econômica Claudia Goldin, 77 anos, da Universidade Harvard, um feito histórico: na última segunda-feira, 9 de outubro, ela foi a primeira mulher a vencer sozinha o Prêmio Nobel de Economia, concedido desde 1969. Na história da premiação, foi a terceira a ser laureada. Contudo, suas antecessoras, Elinor Ostrom, premiada em 2009, e Esther Duflo, em 2019, dividiram o prêmio com homens. Isso ajuda a ilustrar a importância do trabalho da professora Goldin sobre as diferenças que existem na vida profissional de homens e mulheres.
As pesquisas de Goldin sobre o tema datam de 1991. Em 1995, a pesquisadora publicou um estudo que mostrou que a parcela feminina no mercado de trabalho não teve uma tendência ascendente ao longo de dois séculos, e sim fez uma curva em “U”. A participação das mulheres diminuiu com a transição de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial no início do século XIX, mas depois começou a aumentar com o crescimento do setor dos serviços no início do século XX. Goldin explicou esse padrão como resultado de mudanças estruturais e da evolução das normas sociais relativas às responsabilidades das mulheres em relação ao lar e à família — e não com o grau de escolaridade. Em seus estudos ao longo dos anos, a pesquisadora coletou dados sobre o mercado de trabalho feminino e demonstrou cientificamente que casamento e maternidade têm efeito na carreira das mulheres. Agora, o trabalho de Goldin poderá ajudar empregadores, decisores políticos e até outros cientistas a apresentar soluções para a desigualdade de gênero que perdura no mercado de trabalho. No Brasil, em 2023, as mulheres ganham 21% menos do que homens com a mesma idade, função e perfil de escolaridade. Trata-se de uma realidade discriminatória que precisa ser enfrentada.
Pregação contra a fome

“Quem tem fome tem pressa”. De mãos dadas com o bispo paulista Dom Mauro Morelli, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho (1935-1997), criou a frase que serviria de slogan da seminal Ação da Cidadania contra a Fome e a Miséria pela Vida, criada nos anos 1980. O movimento, bonito e fundamental, ajudou, se não a resolver, ao menos a iluminar um problema trágico do Brasil, o da insegurança alimentar, que ainda hoje é uma sombra incômoda. Morelli desde a juventude, logo depois de se formar em filosofia e teologia, se dedicou ao tema, tão próximo dos fiéis que o buscavam na diocese de São Paulo, no início dos anos 1970, como bispo auxiliar de Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016).
A partir de suas experiências, Morelli ajudou a criar o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional durante o governo Itamar Franco (1993-1994) e o Fome Zero do primeiro mandato de Lula. Em maio de 1981, foi nomeado como o primeiro bispo da então criada Diocese de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ele morreu em 9 de outubro, aos 88 anos, em Belo Horizonte.
Publicado em VEJA de 13 de outubro de 2023, edição nº 2863