Ao entrar hoje em um apartamento de alto padrão em Nova York ou Berlim, mas também em São Paulo e no Rio de Janeiro, não será incomum deparar com uma parede de tijolos sem reboco, tubulações metálicas à mostra e móveis feitos com pranchas de madeira de demolição. Não é desleixo — trata-se da mais forte tendência de design de interiores, que incorpora as imperfeições do ambiente para decorar a casa. O estilo, batizado de industrial, bebe dos balcões fabris para buscar suas referências.
O modismo chegou aos lares inspirado na atual geração de hamburguerias, barbearias e escritórios de startups, afeitos a exibir ares de novidade, mas nem sempre com orçamento suficiente para bancar grandes obras e acabamento de ponta. Daí a necessidade de adaptar a obra com o que estiver à mão. Em pouco tempo, irradiou-se para os fabricantes especializados em decoração. Há em São Paulo, por exemplo, a Prototyp&, e opções internacionais como a Steel Vintage, na Inglaterra, e a Go Home, nos Estados Unidos. As redes Tok&Stok e Leroy Merlin também surfam a onda. Um levantamento realizado pela rede social de compartilhamento de fotos Pinterest, a pedido de VEJA, traz uma visão do sucesso: a busca por referências para quartos com esse perfil cresceu 187%; para fachadas de casa, 345%; e iluminação, 800%, em comparação com doze meses atrás. “Em tempos de home office o estilo industrial ganhou ainda mais força por combinar com o aspecto de escritório”, diz Victor Noda, CEO da Mobly, loja de decoração com forte presença on-line.
Não é, ressalve-se, uma invenção dos nossos tempos. O formato é uma linha evolutiva das reformas de grandes galpões em Nova York, nos Estados Unidos, em meados dos anos 1970. Ali, onde anteriormente funcionavam depósitos e outros tipos de dependência industrial ferida pela crise econômica, brotaram inovações. Com o vazio e a iminente demolição de imóveis, grupos de artistas passaram a ocupar os espaços, com novas ideias. A mais célebre das empreitadas foi a do artista plástico Andy Warhol (1928-1987), o gênio irrequieto da pop art, que inaugurou a The Factory. O ambiente fazia as vezes de lar, salão de festas e ateliê – palco de encontros culturais que mexeram com corações e mentes de toda uma geração. “Desde então, locações com esse visual, aparentemente cru, carregam uma impressão de intelectualidade, por abrir espaço para experimentações”, diz a coordenadora do curso de design de interiores no Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo, Sueli Garcia. Os especialistas alertam, no entanto, que, para funcionar, é fundamental pensar no estilo industrial como uma forma de adaptação do espaço, e não como um modelo pronto a ser copiado. “Uma parede estilizada ou um bom móvel de madeira rústica já dão a aparência fabril, sem deixar o ambiente datado”, diz o arquiteto Fernando Forte, do escritório FGMF, em São Paulo. Num momento em que muitas pessoas trabalham em casa, a tendência faz todo o sentido.
Publicado em VEJA de 19 de maio de 2021, edição nº 2738