Mercados podem demorar até 3 anos para se recuperar de uma guerra
As incertezas do conflito entre Rússia e Ucrânia cai como uma bomba nos mercados e ninguém sabe o tempo que levará para a recuperação dos estragos
![A man clears debris at a damaged residential building at Koshytsa Street, a suburb of the Ukrainian capital Kyiv, where a military shell allegedly hit, on February 25, 2022. - Russian forces reached the outskirts of Kyiv on Friday as Ukrainian President Volodymyr Zelensky said the invading troops were targeting civilians and explosions could be heard in the besieged capital. Pre-dawn blasts in Kyiv set off a second day of violence after Russian President Vladimir Putin defied Western warnings to unleash a full-scale ground invasion and air assault on Thursday that quickly claimed dozens of lives and displaced at least 100,000 people. (Photo by Daniel LEAL / AFP)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2022/02/000_323W7XL-1.jpg?quality=90&strip=info&w=1280&h=720&crop=1)
O conflito entre Rússia e Ucrânia está detonando os mercados financeiros globais. Quando o presidente russo Vladimir Putin anunciou a invasão militar ao país vizinho na quinta-feira, 24, as bolsas mundiais reagiram ao ataque com quedas vertiginosas. As incertezas em relação às extensões desse conflito e o aumento da aversão ao risco, cai como uma bomba nos mercados. Os rombos são enormes, e ninguém sabe quanto tempo levará para a recuperação dos estragos.
Com base no índice S&P 500, a recuperação mais rápida do mercado financeiro em um momento de embate foi na Guerra do Kosovo, em 1998, quando os mercados levaram apenas 4 dias para reagir. Mas essa é uma rara exceção, a maioria levou mais de 30 dias ou até anos. A Guerra do Vietnã, em 1959, foi que levou o maior tempo, quase três anos, para ser recuperada, de acordo com o levantamento realizado pelo buscador de investimentos Yubb.
Com a Guerra da Ucrânia, o índice S&P 500 já acumula queda de 7,62%, e o temor das extensões do conflito colocam muitas dúvidas do tamanho do estrago que o embate no Leste Europeu pode causar às economias globais. No primeiro dia do conflito, as bolsas da Europa fecharam em forte queda, com o principal índice da capital russa desabando mais de 30%. Dias antes da invasão, a bolsa de Moscou já registrava sua maior perda desde 2008, com quedas superiores a 10%. Apesar da volatilidade e das enormes flutuações durante o primeiro dia do conflito, as bolsas americanas conseguiram encerrar em alta na quinta, com o ganho de investidores migrando para ativos mais seguros, sobretudo, os títulos americanos.
Nesta sexta, os principais índices das bolsas globais amanheceram negociando em queda, digerindo o efeito sanguinária da guerra nos mercados. “Já vimos volatilidade e fraqueza à medida que os investidores digerem as notícias. A negociação da maioria dos ativos de risco praticamente parou, como é comum quando grandes eventos geopolíticos se desenrolam. As sanções impostas até agora têm sido bastante brandas”, dizem os analistas Daniel Graña e Jennifer James, da Janus Henderson Investors, grupo britânico de gestão de ativos globais com sede em Londres, Reino Unido.
A guerra já causou um salto no preço do petróleo e do gás natural, commodities abundantes na Rússia e das quais a Europa é extremamente dependente. Segundo os analistas britânicos, a duração desse movimento de alta das commodities dependerá da gravidade das sanções impostas pelo Ocidente e da reação da Rússia. Para controlar o processo inflacionário nos países impactados pela alta nos preços de commodities energéticas, os bancos centrais terão de assumir uma postura mais dura, o que deve afetar as economias emergentes. “O fluxo de capitais pode começar a sair de países emergentes, assim como o Brasil, em direção às principais economias, sobretudo, os EUA, promovendo uma pressão de desvalorização cambial”, dizem os o economista-chefe, José Marcio Camargo, e o coordenador econômico, Yihao Lin, da Genial Investimentos, em relatório. No Brasil, apesar de aproveitar o bom momento com a alta das commodities, o Ibovespa já começa a sentir o efeito do movimento de migração dos investidores e da valorização do dólar. O Ibovespa encerrou com queda de 0,37%, aos 111.591 pontos, enquanto o dólar que tinha ficado abaixo de 5 reais durante a semana, voltou a subir e encerrou o dia com alta de 2,02%, a 5,10 reais.
Mas para os analistas da Janus Henderson Investors, a inflação mundial provavelmente aumentará, e à medida que o crescimento desacelera e a inflação atinge o pico, a estagflação é um risco que pode complicar a ação global dos bancos centrais em direção ao aperto, bem como fornecer um vento contrário para os ativos de risco.