Maioria das empresas não possui programas de inclusão e diversidade
Especialista em diversidade diz que desafio é promover a inclusão de grupos diversos e condena piadinhas preceituosas no local de trabalho
Empresas que possuem políticas de inclusão e diversidade para grupos que mais sofrem discriminação – como mulheres, negros, deficientes e LGBT – ainda são minoria no país. Seis em cada dez companhias não possuem nenhum programa, segundo pesquisa realizada pelo site vagas.com com profissionais de Recursos Humanos. Entre as que informaram oferecer esse tipo de programa, a maioria é para pessoas com deficiência (88%).
Para 62% dos profissionais de RH, suas empresas não estão preparadas para lidar com a diversidade. Outros 25% acreditam que as companhias não estão aptas a tratar do tema. Só 10% afirmam que suas corporações estão prontas para essa questão.
Para Ana Pellegrini, coordenadora do programa de diversidade da Uber na América Latina, a criação de políticas de inclusão melhora o ambiente de trabalho. “Quando não existe o comprometimento institucional com a diversidade, as pessoas não se sentem à vontade, ficam inibidas e sem poder ser quem elas são. Quando se tem um programa para grupos minorizados, se fala sobre o assunto, mostra-se a importância dele, o ambiente fica melhor.”
Mas não basta criar programas de diversidade. Cris Kerr, especialista em diversidade e inclusão, diz que o grande desafio é fazer inclusão desse público. “O que as empresas fazem hoje é diversidade, contratam um monte de pessoas diversas, mas não incluem. É como se fizessem uma festa, convidassem homens, mulheres, brancos, negros, LGBT e deixassem todos eles sentados, não chamassem ninguém para dançar. Eu falo que trouxe todo mundo, mas não incluí ninguém.”
Segundo ela, esse tema começa a preocupar as empresas, mas pouca coisa tem sido feita para melhorar a inclusão. “Incluir é dar voz para essas pessoas se sentirem pertencentes àquele time.”
Cris afirma que a maioria dos programas de diversidade e inclusão estão em empresas multinacionais. “A matriz adotou e determinou que o Brasil também fizesse algo. As iniciativas nacionais próprias são raríssimas.”
Diretora jurídica da Uber, Ana foi a primeira funcionária LGBT da companhia. Ela demorou anos para sair do armário no ambiente do trabalho e hoje coordena políticas de inclusão na corporação. Uma das iniciativas é a possibilidade de que motoristas transexuais adotem o nome social mesmo antes de terem finalizado o processo de transição de gênero. A Uber foi reconhecida pela Glassdoor, serviço on-line de recrutamento e seleção de talentos, como a empresa número 1 em práticas de contratação igualitárias para pessoas LGBTQ+.
A inclusão do público LGBT nas corporações passou a ser tema de uma campanha lançada nesta semana pela ONU (veja vídeo abaixo). O objetivo é combater a discriminação no ambiente de trabalho e fortalecer o envolvimento das empresas na promoção da igualdade de direitos e tratamento justo da população LGBT.
Chega de piadinha
Para incluir os funcionários diversos, Cris diz que é preciso haver uma mudança de postura a partir dos principais cargos de chefia. “Não adianta a empresa montar o programa e aí um chefe chega e fala: ‘olha as luluzinhas’ ou ‘olha o comitê dos gays’. O líder tem que dar exemplo, não pode fazer piada.”
Ela cobra outras mudanças. “Por que apenas as mulheres fazem anotações em reuniões de trabalho? Não pode haver um revezamento