Itens inspirados em filmes, séries e quadrinhos chegam à copa e à cozinha
Impulsionados pela geração millennial, produtos temáticos aparecem na forma de eletrodomésticos temáticos
Fundada no início do século XX, a fabricante de panelas de ferro fundido Le Creuset conquistou seu lugar nas cozinhas elegantes do mundo graças à fama dos chefs estelares que usavam seus produtos, caracterizados pela esmaltação colorida e pela alta qualidade. Desde o início do mês, uma campanha publicitária nas redes sociais revela que a tradicional fundição localizada no norte da França incluiu um novo atributo em seus vistosos e caros itens: elementos decorativos que remetem à série cinematográfica Guerra nas Estrelas. Trata-se de uma linha limitada composta de sete artigos, com destaque para uma assadeira que reproduz na tampa o personagem Han Solo transformado em pedra de carbonita, em referência ao episódio O Império Contra-Ataca, e uma caçarola esmaltada de preto com um sinistro retrato do vilão Darth Vader marcado no metal — indicado para “o lado sombrio” dos cozinheiros, como mostra o vídeo de lançamento. As duas peças saem por pouco mais de 2 000 reais cada uma, mas há produtos mais baratos, como apoios de panela feitos de silicone na forma da nave Millenium Falcon e da Estrela da Morte, que custam cerca de 100 reais cada um.
A iniciativa da fábrica de panelas francesa demonstra como o apelo dos temas, personagens e cenários da galáxia tão distante extrapolou a circunscrição do material escolar das crianças, das camisetas e dos brinquedos para invadir outros territórios no cotidiano dos fãs, entre eles o das utilidades domésticas. Para ficar apenas na série da Lucasfilm e da Disney, por exemplo, é possível comprar cafeteira, pipoqueira e ventilador lançados recentemente pela espanhola Mallory. “Se eu pudesse, só teria produtos temáticos de filmes aqui em casa”, diz o funcionário público Daniel Herculano, 41, fã de cinema “desde que nasceu”. Na verdade, Herculano está bem perto de realizar seu desejo. Ele personalizou o que pôde em sua residência, do capacho da porta, com menção a Star Wars, ao quarto da filha, baseado em Toy Story. Na cozinha, os eletroportáteis foram trocados por similares que estampam os motivos da saga intergaláctica, enquanto nos armários se acumulam canecas, roupas de cama e vários outros objetos com o tema. “Fizemos nossas primeiras linhas temáticas com base no personagem Mickey, da Disney, com um componente pop e até de saudosismo, para consumidores entre 25 e 45 anos. Deu tão certo que resolvemos partir agora para o universo de Star Wars”, explica Flávia Belmiro, gerente de marketing da Mallory.
Os produtos desenvolvidos sob inspiração dos jedis e afins fazem parte de um contexto que reúne ainda personagens da série Game of Thrones, dos filmes protagonizados por Harry Potter, dos jogos e derivados do Super Mario World e até dos quadrinhos brasileiros da Turma da Mônica, que estrela linhas de utilidades domésticas e louças das redes de lojas como Tok&Stok e Pernambucanas. Trata-se de um segmento que movimenta cerca de 20 bilhões de reais anualmente no país e cresce em média 7% ao ano, sobretudo devido ao consumo da chamada geração millennial (os nascidos entre os anos 1980 e 1990), que já abocanha 40% dos itens licenciados. “Eles cresceram com lancheiras, roupas e calçados de seus personagens preferidos e, agora que estão montando suas casas, querem resgatar essas memórias afetivas”, afirma Marici Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Licenciamento, entidade que compila os dados sobre a cessão de direitos de personagens de filmes, livros e outras obras para a utilização comercial. A depender dos criadores, tal fenômeno não acaba tão cedo. A Mauricio de Sousa Produções, detentora dos direitos da Turma da Mônica e dirigida pela própria inspiradora da personagem, Mônica Sousa, planeja para breve mais linhas para aumentar o catálogo de produtos de artigos domésticos para cozinha, quarto e sala inspirados nos personagens. Tudo para trazer a fantasia para os momentos mais prosaicos do dia a dia.
Publicado em VEJA de 11 de março de 2020, edição nº 2677