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Intervenção no Rio pode atrasar acordo de Boeing e Embraer

A preocupação surge após o Ministério da Defesa ser convocado a liderar a ação militar no Rio e Raul Jungmann ser indicado ao novo ministério

Por Estadão Conteúdo
27 fev 2018, 09h54

A intervenção militar na segurança do Rio de Janeiro e a criação do Ministério da Segurança Pública tendem a atrasar as negociações para criação de uma nova empresa entre Boeing e Embraer. A preocupação surge após o Ministério da Defesa ser convocado a liderar a ação militar no Rio e Raul Jungmann ser indicado ao novo ministério. Jungmann é o principal interlocutor das duas companhias com o governo e toda a negociação é feita na esfera do Ministério da Defesa.

Alguns dias antes do carnaval, o Ministério da Defesa recebeu a proposta para organização societária da nova companhia a ser criada entre Boeing e Embraer. Representantes do governo analisam o documento e darão um parecer às empresas. Antes de qualquer reação, porém, elas foram pegas de surpresa com o anúncio de que, dias depois, o mesmo Ministério da Defesa fora convocado às pressas para coordenar a intervenção militar no Rio.

Executivos envolvidos na negociação avaliam que a intervenção fez com que a atenção da Defesa e do próprio governo fosse direcionada para o Rio. Ainda que não tenha havido nenhuma declaração oficial do governo brasileiro, a percepção da Boeing e da Embraer é que o negócio saiu do centro do radar do Palácio do Planalto porque os nomes do governo que tratam do assunto e os líderes da intervenção no Rio são coincidentes.

O entendimento foi reforçado ontem com a notícia de que o ministro Raul Jungmann, principal interlocutor da Boeing e Embraer no governo, pode mudar de cargo com a indicação ao novo Ministério da Segurança Pública.

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Uma fonte que acompanha a negociação de perto diz que atualmente “a bola está com o governo” porque as conversas só podem avançar com o aval de Brasília. Dessa forma, o entendimento é que o ritmo das negociações será imposto pelo Palácio do Planalto. As empresas têm interesse em negociação rápida, especialmente a Boeing, que já sinalizou o desejo de concluir as tratativas antes que o assunto vire tema da disputa eleitoral para presidência.

Ao governo brasileiro, foram apresentadas algumas propostas de organização societária. O desenho indica posição majoritária dos americanos – algumas sugestões indicam pelo menos 80% do capital da nova empresa de posse da Boeing.

Poder de veto

Apesar da fatia minoritária dos brasileiros, o poder de veto do governo – exercido por meio da chamada “golden share” – seria preservado nas atividades da Embraer. Isso acontece porque a proposta faz diferenciação explícita entre o conceito de “propriedade” e “controle” da nova companhia, o que preservaria o interesse do Brasil em temas como a unidade de defesa da Embraer. Ou seja, a Boeing seria dona, mas o Brasil poderia mandar em alguns temas.

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A grande diferença entre a fatia da norte-americana e da brasileira é explicada pelo tamanho das duas empresas. Enquanto a Boeing tem valor de mercado superior a 210 bilhões de dólares (677 bilhões de reais), o valor de mercado da Embraer gira em torno de 5 bilhões de dólares (16 bilhões de reais). Ou seja, o valor da brasileira não chega a 5% da americana.

Diante dos números, a fonte rechaçou valores citados na imprensa durante o fim de semana que indicariam nova empresa com participação acionária de 51% para os americanos e 49% para os brasileiros. “Está muito longe do que estamos negociando”, disse.

Versão dos envolvidos

Procurado oficialmente, o Ministério da Defesa negou que a intervenção no Rio e a criação de um novo ministério possam atrasar a criação da terceira empresa que pode sacramentar a parceria Boeing e Embraer.

A Embraer preferiu não comentar. A Boeing não respondeu até o fechamento da edição.

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