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Governo admite deterioração econômica, mas não assume sua parcela de culpa

Economia revisa PIB para baixo, citando aumento de juros e câmbio, mas não fala da influência do 'drible' no teto de gastos e aumento do risco fiscal

Por Larissa Quintino Atualizado em 17 nov 2021, 11h54 - Publicado em 17 nov 2021, 10h17

O ministro da Economia, Paulo Guedes, gosta de dizer que o Brasil vai surpreender o mundo. O discurso foi muito usado em 2020 durante o choque inicial da crise de Covid-19. Na ocasião, o PIB do país recuou 4,1% enquanto agentes financeiros chegaram a projetar quedas mais bruscas, entre 6% e 9%. Agora, Guedes voltou a dizer que o país irá surpreender e que o mercado errará novamente, neste caso, com o crescimento de 2022. Segundo o Boletim Macrofiscal, divulgado nesta quarta-feira, 17, pelo Ministério da Economia, o governo projeta que o país avance 2,1% no próximo ano. A previsão é menor que os 2,5% projetados em agosto, mas muito mais otimista que a previsão do mercado financeiro, que vê crescimento de 0,93% para o próximo ano. No documento, produzido pela Secretaria de Política Econômica (SPE), o governo admite que o principal motivo para a revisão do PIB é “a deterioração das condições financeiras locais”, e cita a alta da curva longa dos juros e o aumento do dólar, que chegou a bater 5,70 reais. Os dois parâmetros podem ser vistos como indicadores de risco para o mercado.

Tanto a curva de juros quanto o dólar dispararam nos últimos meses, durante a tramitação da PEC dos Precatórios. A medida, que foi aprovada pela Câmara, mexe no teto de gastos e rola dívidas judiciais do governo com o objetivo de abrir espaço no Orçamento e bancar o Auxílio Brasil turbinado durante ano eleitoral. No relatório, apesar de admitir a deterioração fiscal do país, a equipe econômica não cita a derrubada do teto de gastos e a disputa no Orçamento como motivo da piora econômica do país. Questionado, o secretário Adolfo Sachsida afirmou que a questão do Auxílio Brasil tem gerado ruídos. “Acho que em 30 dias, tão logo seja aprovada a PEC dos Precatórios, tão logo fique claro para o mercado o Auxílio Brasil, vai ficar claro que a nossa política fiscal é a mesma. Nós fizemos ajustes no passado e ela continua”.

No documento, o ministério se mostra otimista com indicadores de melhora do emprego, com a taxa de desemprego descendo de 14% para 13%, e afirma que esse é o motivo da projeção de crescimento para o próximo ano melhor do que a do mercado financeiro. “Esperamos uma forte retomada no mercado de trabalho, incremento no investimento privado e nossa agenda de reformas segue inalterada”,  afirma Sachsida.

Inflação

Além do PIB, o governo admite também piora na projeção da inflação. Segundo a secretaria, o IPCA, índice oficial do país,  deve encerrar o ano em 9,7%, em linha com o estimado pelo mercado financeiro, e bem acima dos 7,9% da projeção anterior. Já, para 2022, o governo projeta o IPCA a 4,7%, também em linha com o mercado e encostado na margem de tolerância para a inflação do próximo ano, que é de 5%. Na análise da Secretaria Macrofiscal, a disparada da inflação brasileira reflete os efeitos na oferta e demanda mundial e aumento das commodities, e utiliza números dos Estados Unidos para exemplificar. Porém, não cita o efeito da deterioração do real frente ao dólar — um dos reflexos do aumento do risco fiscal — na inflação.

Além do IPCA, a perspectiva para o INPC também subiu, e esse indicador tem impacto direto no Orçamento. O INPC é a base da correção anual do salário mínimo pelo governo e também de aposentadorias. No boletim anterior, o governo projetava 8,4% e, agora, vê 10,04%. O Orçamento, que foi entregue em agosto ao Congresso, vê o INPC em 6,2%, e precisará de revisão. No caso do salário mínimo, por exemplo, o valor com a nova inflação sobe dos atuais 1.100 reais para 1.210,44 reais. No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), o governo estima o salário mínimo em 1.169 reais.

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