Globo: Negócio de audiência e algoritmo
Com lucro recorde em 2024, empresa aposta em expansão digital, novas mídias e estratégias para manter relevância em um mercado cada vez mais fragmentado
Em um setor cada vez mais pulverizado, a Globo mostrou em 2024 que ainda consegue transformar audiência em resultado financeiro. O lucro líquido de 1,99 bilhão de reais — alta de 138% em relação ao do ano anterior — sinaliza não apenas eficiência operacional, mas também a consolidação de um modelo que combina a força da TV com o avanço das plataformas digitais. A receita total no ano superou 16 bilhões de reais, reforçando a capacidade da empresa de se adaptar sem romper com sua base tradicional.
Segundo Manuel Belmar, diretor de produtos digitais, finanças, jurídico e infraestrutura da Globo, o bom desempenho ocorreu por uma combinação de fatores: aumento das receitas publicitárias (14%, chegando a 11 bilhões de reais), crescimento da base de assinantes digitais (42% no Globoplay e 41% no Premiere Play) e controle de custos. “Mesmo com o aumento de 7% nos custos totais, resultado do desembolso com os direitos da Olimpíada de Paris, reduzimos em 2% as despesas gerais e administrativas — reflexo do nosso compromisso com a disciplina de custos e com a gestão eficiente de recursos”, afirma Belmar.
O Globoplay encerrou o ano como o serviço de streaming com maior engajamento do país, com média diária de duas horas e oito minutos por usuário e cerca de 30 milhões de usuários mensais. A receita publicitária da plataforma aumentou 86% em 2024. A aquisição do controle da Eletromidia, especializada em publicidade em espaços públicos, e da rede de canais Telecine também contribuiu para ampliar o alcance e diversificar os negócios. “Fortalecemos nosso ecossistema de publicidade, acompanhando a jornada de vida dos brasileiros dentro e fora de casa”, diz Belmar.
Historicamente, os resultados financeiros da Globo são compostos de cerca de 60% de receitas publicitárias e 40% de conteúdo. Para Marcelo Coutinho, professor de estratégia e economia digital na Fundação Getulio Vargas, a fatia ainda majoritária de publicidade não representa, por si só, um problema. Ele lembra que empresas como o Facebook têm até 95% da receita ancorada em publicidade. “A maioria das empresas de mídia teve enormes dificuldades para diversificar suas fontes de receita. A Globo vem conseguindo avançar nessa direção sem perder sua relevância cultural e social”, afirma Coutinho.
Em 2025, a Globo já alcançou 196 milhões de pessoas, somando todas as suas plataformas, com média de três horas e 46 minutos de permanência diária — recorde dos últimos dez anos. A empresa tem ampliado a distribuição de conteúdo por meio de diferentes canais digitais. “Lançamos a GE TV, novo canal de entretenimento esportivo, que impactou mais de 35 milhões de espectadores únicos em seu primeiro mês”, afirma Belmar. Ele também destaca os investimentos em novos formatos: mais de 2 000 microdramas e vídeos curtos verticais por semana são produzidos nos aplicativos e sites da empresa.
Apesar do bom desempenho, as questões por resolver à frente não são triviais. A principal incerteza, segundo Coutinho, envolve o impacto da inteligência artificial na produção de conteúdo. “Ainda é cedo para saber se a IA será uma ameaça ou uma oportunidade”, diz. “Mas é certo que, para enfrentar essa nova transição tecnológica, será preciso manter o conteúdo relevante — e, felizmente para a Globo, ela tem caixa e estrutura para isso.”
Publicado em VEJA, outubro de 2025, edição VEJA Negócios nº 19
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