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Gastar mais não garante a saúde

É preciso uma inversão: prioridade à gestão preventiva, e não à de doenças, diz Victor Piana presidente do A.C. Camargo Cancer Center

Por Victor Piana
27 jun 2025, 06h00

Os dados do setor mostram que o gasto com saúde equivale a 10% do PIB do Brasil, sendo 3% pagos por empresas, 3%, por famílias e 4%, pelo governo. Companhias recebem reajustes acima de 20%, enquanto o IPCA segue abaixo de 5%. A solução, até agora ineficaz, tem sido trocar de operadora para outra com menor preço a cada um ou dois anos. Fazendo uma análise simples, gastamos cerca de 1 900 dólares por pessoa na saúde suplementar e 600 dólares por pessoa no setor público, levando em consideração a expectativa de vida ao nascer de 76 anos no Brasil. Nos Estados Unidos, a população atinge os 78 anos gastando 12 000 dólares por pessoa. É muito claro, contudo, que gastar mais não é sinônimo de mais saúde. Em comparação com os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, o setor privado do Brasil excede em exames, internações e nos custos gerenciais, investindo pouco em prevenção — o equivalente a 1% do gasto do setor privado —, enquanto exames consomem 17%, internações, 33% e os custos administrativos, 14%.

O sistema atual do país incentiva as pessoas a cuidar de doenças, e não a preservar a saúde. O benefício do cartão de saúde é entregue pelas empresas no primeiro dia de trabalho sem orientações, junto com o vale-refeição e o vale-alimentação. O colaborador usa na sua conveniência. Com suas convicções clínicas, recorre ao pronto-socorro após o trabalho, já que não precisa de agendamento, faz exames, ganha um atestado.

“Faça escolhas analisando resultados e elimine fontes de desperdício”

É possível ainda eleger sua peregrinação por hospitais, por especialistas e por exames, deixando peças de informações fragmentadas nos vários endereços. No fim, são vários diagnósticos, várias condutas, muitas dúvidas e muito desperdício. O contrato com as operadoras detalha os aspectos comerciais, preços, prazos de autorização e rede de atendimento, e as operadoras recontratam prestadores pelo volume de atendimentos, exames ou internações, focando a gestão do sinistro. Prestadores aprendem a sobreviver no jogo de preço baixo e reajustes abaixo do IPCA, equilibrando-se com a quantidade de atendimentos, exames, medicamentos e internações. Médicos querem usar tecnologias de última geração sem se aprofundar no custo adicionado. “Todo sistema está perfeitamente ajustado para os resultados que obtém” disse Paul Batalden, um dos fundadores do Institute for Healthcare Improvement.

A solução é complexa e requer gestão. Quem paga a conta também pode exigir mais. Então, transforme a cultura, priorize contratos para a gestão da saúde e revisite a forma de operacionalizar o cuidado das doenças. Faça escolhas analisando resultados e elimine out­liers de desperdícios de exames e internações. Nesse sentido, a inteligência artificial chegou para nos ajudar. Encontre benchmarks de reajuste abaixo da média e saúde/produtividade acima da média. Contratos mais longos com reajustes menores baseados em metas de prevenção compartilhadas podem inovar no setor. Seus colaboradores merecem uma saúde corporativa de excelência. Esse é o início de uma longa conversa, mas estou otimista de que conseguiremos.

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Victor Piana é presidente do A.C. Camargo Cancer Center

Os textos dos colunistas não refletem necessariamente as opiniões de VEJA NEGÓCIOS

Publicado em VEJA, junho de 2025, edição VEJA Negócios nº 15

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