Franquias movimentam bilhões e crescem em meio à onda do empreendedorismo
De brechó a Casa de Bolos, segmento cresceu 13,5% e fez R$ 273 bi em 2024, segundo ABF

O setor de franquias vem se destacando como uma porta de entrada ao empreendedorismo. Da pessoa jovem à pessoa idosa, vários brasileiros se aproveitam do crescimento desse mercado para realizar o sonho de possuir um negócio próprio ou como uma alternativa para complementar a renda e até migrar de carreira.
Esse é o caso da famosa Casa de Bolos, franquia comandada por Sônia Ramos, conhecida como Vó Sônia. A rede foi criada em 2009, quando ela tinha 63 anos de idade, com o intuito de ajudar o filho, que acabava de perder o emprego. A primeira unidade construída foi em sua cidade natal, Ribeirão Preto (SP), mas logo seus bolos caseiros atingiram muito sucesso e fizeram o negócio prosperar. No final de 2010, a Casa de Bolos já tinha cinco unidades e, em 2011, a família decidiu continuar a expansão por meio do sistema de franquias. Hoje, Vó Sônia tem 78 anos e sua rede conta com mais de 500 lojas em 200 cidades, com uma produção diária de 55 mil bolos.
“A idade muitas vezes pode ser um fator importante no resultado, pois as pessoas mais experientes no mercado de trabalho trazem consigo uma riqueza de conhecimento e sabedoria, o que gera mais tranquilidade para alcançar os resultados e também para compreender os erros que temos neste percurso empreendedor”, diz Vó Sônia a VEJA. Ela também reforça que o espírito de aprendizagem, aprender com as gerações mais novas e saber delegar as atividades e ações para uma equipe de confiança são medidas essenciais para manter um negócio de sucesso.
Já o brechó Release, fundado por Michelle Svicero, começou a se expandir pelo modelo de franquias recentemente. Com duas lojas atualmente, a empresa tem a expectativa de atingir 50 unidades, espalhadas por todo o país, e um faturamento de 90 milhões de reais até o fim deste ano. Para Svicero, a expansão da marca para o cidades do interior, se aliar a gerentes competentes e especializados e não ter vergonha de vender seu produto impulsionaram fortemente o crescimento de seu negócio próprio.
Svicero desenvolveu um dom empreendedor desde criança e começou a construir seu próprio negócio após concluir um curso de moda que ganhou de presente aos 15 anos. Ao entrar para o universo de peças de segunda mão, que não era um setor glamourizado há dez anos, Michelle teve a oportunidade de abrir um espaço físico em Bauru (SP) durante a sua faculdade de moda. Segundo a empreendedora, o lugar foi construído com o objetivo de se destacar entre as lojas da cidade e chamar a atenção principalmente do público feminino.
Aquecimento do setor
O setor de franquias no Brasil teve um crescimento de 13,5% em 2024 e movimentou 273 bilhões de reais, de acordo com dados divulgados no início de fevereiro pela Associação Brasileira de Franchising (ABF). Até o fim do ano passado, o país contava com 3.300 marcas franqueadoras e um total de 197.709 unidades em operação. O aquecimento do setor se deu, sobretudo, pela expansão para o interior dos Estados, o avanço da digitalização e a busca por eficiência operacional.
Em relação aos diferentes segmentos do franchising, os que mais se destacaram foram o de entretenimento e lazer, com alta de 16,6%, saúde, beleza e bem-estar, com 16,5%, e food service, que cresceu 16,1%. O aumento da demanda por lazer em shopping centers, o envelhecimento da população e o aumento da massa salarial e a busca por produtos de maior valor agregado foram os principais fatores que impulsionaram os setores destacados, respectivamente. Entretanto, especialistas da área ainda afirmam que o franchising pode ter mais espaço para crescer, caso tenha o investimento governamental necessário.
Segundo Lucien Newton, especialista em franquias e vice-presidente da vertical de Consultoria do Ecossistema 300 Franchising, o setor impulsiona o primeiro emprego de diversos brasileiros, já que cada função e posto de trabalho são especificamente mapeados. Com isso, o segmento não depende de funcionários com experiência prévia, apenas com as soft skills necessárias para trabalhar com clientes.
“O franchising tem custos diretos e indiretos, a necessidade de equilíbrio financeiro e a pressão inflacionária. Então, acaba segurando na contratação”, explica Newton a VEJA. “Se houvesse mais incentivos do governo, por ser um setor preparado para incluir pessoas no mercado de trabalho, eu tenho certeza que o número de novos empregos poderia ser duas ou três vezes maior.”
Expectativas para o setor de franquias
O estudo da ABF prevê uma alta de 8% a 10% no faturamento do franchising em 2025, com um aumento de 2% no número de unidades e empregos. A expectativa é aliada à previsão do Produto Interno Bruto (PIB) do país, pois o setor é um reflexo da economia e cresce algumas vezes mais do que o número do PIB, já que sua estratégia de expansão envolve eficiência e ganho de escala, de acordo com Lucien Newton.
Para o especialista, para que mais marcas cresçam no mercado, é necessário “fazer o dever de casa”. Montar um plano de negócios com planejamento, pesquisa, estudo e networking de qualidade difere aqueles que terão sucesso daqueles que têm “preguiça” de se dedicar ao planejamento correto e provavelmente terão suas marcas abaladas ou até mesmo não abertas.