Fim da jornada 6×1 retiraria até 527,2 bilhões de reais da economia, estima FGV
Para pesquisador da FGV, eventuais ganhos de produtividade e aumento do número de empregados não seriam suficientes para compensar perdas

O fim da jornada 6×1 (seis dias de trabalho por um de folga) retiraria até 527,2 bilhões de reais da economia, caso fosse adotada. A estimativa é do economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). Em recente artigo publicado no Observatório de Produtividade da FGV, Barbosa Filho calcula que, no ano passado, o valor adicionado pelo trabalho à economia foi de 8,479 trilhões de reais, considerando-se uma jornada média semanal de 38,4 horas. Mantidos os demais fatores, se o número de horas caísse para 36, como estabelece a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) protocolada na Câmara dos Deputados, o valor adicionado recuaria para 7,952 trilhões de reais – uma queda de 6,2% sobre os valores atuais.
O fim da jornada 6×1 (seis dias de trabalho por um de folga) voltou à tona, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestar seu apoio à proposta durante o pronunciamento em rede nacional realizado na noite de ontem, 30, em homenagem ao Dia do Trabalho. “Está na hora de o Brasil dar esse passo, ouvindo todos os setores da sociedade para permitir um equilíbrio entre a vida profissional e o bem-estar de trabalhadores e trabalhadoras”, disse Lula. Apadrinha pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), após o movimento que defende o fim da atual jornada de trabalho ganhar força nas redes sociais, a PEC 08/25 defende o fim da jornada de 44 horas semanais – que, na prática, permite a setores, como o comércio, adotar a escala 6×1 – e a adoção das 36 horas.
Protocolada em 25 de fevereiro, a proposta recebeu o apoio de 171 deputados federais, mas segue engavetada. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), ainda não a enviou para a Comissão de Constituição e Justiça da Casa, onde iniciaria a tramitação. Tampouco optou pelo caminho alternativo de instalar uma comissão especial que a apreciasse.
Enquanto os políticos não se entendem, os economistas seguem fazendo contas. Para Barbosa Filho, da FGV, “uma redução da jornada de trabalho máxima de 44 horas para somente 36 horas poderia gerar perdas significativas no nível de produto da economia brasileira”. Para seus cálculos, o pesquisador considerou uma população ocupada de 102,2 milhões de pessoas, que trabalharam um total de 204 bilhões de horas no ano passado. Cada hora trabalhada adicionou 41,6 reais à economia.
Um dos argumentos de quem defende o fim da escala 6×1 é que seu impacto seria atenuado por ganhos de produtividade das empresas. Para Barbosa Filho, no entanto, a ideia não se sustenta. “A produtividade do trabalho no Brasil tem evoluído de forma medíocre ao longo dos últimos anos”, afirma no artigo publicado. Ele lembra que, de 1981 a 2024, a produtividade cresceu, em média 0,2% ao ano, enquanto a produtividade por hora trabalhada avançou 0,5% ao ano. Em suas simulações, o pesquisador concluiu que, mesmo que a produtividade disparasse 2,5%, a jornada de 36 horas semanais retiraria 3,9% de valor da economia, ou 331 bilhões de reais dos 8,479 trilhões gerados no ano passado.
Outro argumento é que a menor carga horária seria compensada pelo aumento do número de trabalhadores. Para Barbosa Filho, o efeito pode ser o oposto, já que, para as empresas, isso representaria um aumento de custos. “Para empresas com a jornada máxima atual de 44 horas semanais, a redução da jornada para 36 horas elevaria o salário real em 18%”, afirma. Isso desencorajaria as empresas a compensar a redução da jornada com o aumento do número de funcionários. Na prática, a situação poderia acarretar perdas de mais de 900 bilhões de reais para a economia. “Quanto maior for a redução do emprego em virtude da elevação do salário real, maior será a queda do valor adicionado”, observa no estudo.
Leia a íntegra do estudo de Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Ibre/FGV, sobre o fim da jornada 6×1: