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Expansão da economia esbarra na alta da inflação, problema crônico do país

O tema é tão relevante que voltou a ganhar ênfase na lista de preocupações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central

Por Juliana Machado, Luana Zanobia 7 abr 2024, 08h00

À primeira vista, pode parecer que o Brasil nada em um mar de boas notícias. O PIB cresceu 6% na soma dos últimos dois anos, o número de desempregados é o menor em uma década, os juros estão em queda e um conjunto de reformas, entre elas a tributária de agora e a previdenciária e a trabalhista de tempos atrás, parece colocar o país nos trilhos. No entanto, é em meio a essa aparente onda favorável que surge uma velha armadilha: a inflação. O tema é tão relevante que voltou a ganhar ênfase na lista de preocupações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Na sua última decisão sobre a Selic, a autoridade monetária trouxe a boa notícia de uma taxa básica menor, reduzida a 10,75% ao ano. Ao mesmo tempo, chamou atenção para a aceleração do crescimento econômico e da massa salarial — e os possíveis efeitos disso na inflação de serviços, ainda bastante resistente. E mais: ao se referir a um novo corte de juros no futuro, o BC também abandonou o plural, mencionando uma redução de 0,50 ponto percentual “na próxima reunião”. Com essa decisão, abriu espaço para uma política monetária menos expansionista, com cortes menores ou por menos tempo. Tudo por culpa da inflação, que teima em não recuar da maneira desejada.

A alta de preços impõe um desafio: o que é preciso ser feito para que o país cresça sem a escalada inflacionária? Nos cálculos de economistas, o crescimento máximo que o Brasil consegue sustentar sem impulsionar a inflação está na apertada faixa de 1,5% a 2%. Isso porque a expansão da atividade é calcada no aumento do consumo sem que a oferta acompanhe o ritmo, fazendo com que os preços subam. A solução passa por atacar fatores que elevem a oferta, como o aumento da produtividade e dos investimentos na economia real. Este teve queda nos últimos dois anos: em 2023, a taxa em relação ao PIB foi de 16,5%, a menor desde 2019.

Afinal, por que temos um nível tão baixo de investimento? “A melhor explicação é que nossa dívida é elevada, com déficits públicos há bastante tempo, e uma parte da poupança vai para o consumo do próprio Estado”, diz Tomás Goulart, economista-chefe da gestora Novus Capital. Para Anna Reis, economista-chefe de outra gestora, a Gap Asset, o aumento da produtividade tende a levar a oferta ao mesmo ritmo da demanda, atenuando pressões inflacionárias, inclusive nos serviços. “PIB puxado por consumo é mais inflacionário do que PIB puxado por investimento”, afirma ela.

Há quem argumente que, nos últimos anos, a expansão da atividade do país veio acompanhada de inflação mais comportada. É verdade, mas é importante lembrar o efeito da pandemia, em que a taxa de desemprego explodiu — o que manteve os preços na rédea curta. Agora, com desemprego e capacidade ociosa mais baixos, a situação é diferente. O desemprego também é assunto para o BC, que monitora de perto o aumento dos rendimentos reais do trabalhador. A taxa de desocupados do país ficou em 7,8% no trimestre encerrado em fevereiro, abaixo da média histórica, em torno de 10,5%. Um mercado de trabalho pujante é algo bom. Mas implica salários mais altos, e isso provoca, de um lado, níveis de consumo mais robustos e, de outro, aumento de preços das mercadorias.

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arte economia

A isso se soma o desafio da agenda fiscal do país. Para garantir algum equilíbrio nas contas públicas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, adotou medidas como o arcabouço fiscal e aumentos na carga tributária. Ainda assim, segundo o economista Samuel Pessôa, pesquisador da Fundação Getulio Vargas e sócio do Julius Baer Family Office, os efeitos dessas reformas ainda vão demorar a aparecer na economia — a tributária só deverá aumentar o PIB potencial a partir de 2030. “Ainda há uma lista extensa de mudanças necessárias para impulsionar o crescimento potencial, como a desoneração da folha de salários, as reformas institucionais e as melhorias na qualidade da educação pública”, diz Pessôa. O crescimento sustentável, sem a ameaça inflacionária, só será alcançado com muito esforço.

Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887

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