Estudo revela por que comprar ações que pagam dividendos é uma grande jogada
Trata-se de uma das melhores formas de aumentar os lucros e blindar a carteira de investimentos contra os solavancos da bolsa

O cenário de juros altos coíbe o investimento em ações. Essa é a verdade universal com a qual praticamente todo o mercado financeiro vem trabalhando há cinco anos, quando a taxa Selic começou a subir no Brasil e a empurrar os recursos dos investidores para os retornos da renda fixa. Ainda assim, algumas estratégias de investimentos podem se contrapor a essa lógica — e assegurar bons ganhos aos acionistas. É o caso de empresas pagadoras de dividendos, que costumam trazer ganhos para os investidores seja qual for o cenário econômico. A realidade não deixa mentir: o Índice Dividendos (Idiv), que reúne as empresas que mais distribuem proventos, supera o Ibovespa, principal referência do mercado acionário brasileiro, em diversas janelas de tempo. Nos últimos dois anos, o Ibovespa avançou 10%, mas o Idiv foi além, com alta de 20%. Nos últimos cinco anos, a diferença de performance é ainda mais evidente: o Idiv subiu 31%, enquanto o Ibovespa entregou retorno de 7%. A boa notícia é que esse movimento deverá continuar em 2025.
É fato que a renda variável oferece, por si só, mais riscos do que a renda fixa, em especial com os juros em alta. A escolha de ações pagadoras de proventos, porém, serve de “blindagem” em uma carteira de investimentos porque a distribuição dos recursos não depende diretamente do cenário macroeconômico, mas do desempenho da companhia, já que o dividendo é uma parcela do lucro da empresa. “Essa é uma das estratégias principais dentro dos nossos portfólios”, afirma Gilberto Nagai, superintendente de renda variável da SulAmérica Investimentos. “São empresas geradoras de caixa, líderes em seus setores, com pouco endividamento e menos necessidade de novos investimentos.”

Um estudo exclusivo realizado pela consultoria Elos Ayta mostra que o chamado dividend yield — a rentabilidade proporcionada pelos dividendos — continuará em alta em 2025. A empresa projeta, por exemplo, que o dividend yield da Petrobras será de 21,1% em 2025, acima dos 19,3% pagos em 2024. Os proventos desembolsados por gigantes como Vale, Banco do Brasil e CSN também deverão superar os níveis do ano passado, e isso em um cenário econômico contaminado por incertezas. Entre os nomes promissores para os próximos meses estão também Marfrig, Bradespar e Cemig, mas existem outras inúmeras opções que merecem o olhar mais atento do investidor. Com a forte desvalorização recente de ações, diversas companhias boas, grandes e pequenas, tornaram-se alternativas na estratégia de dividendos. “Hoje, você consegue juntar uma empresa que tem ganho de capital e paga dividendos”, diz Bruno Henriques, analista de ações do BTG Pactual. “Poucas vezes foi possível encontrar essa combinação.” Na carteira da casa, estão “figurões” do mercado, como Petrobras e Itaú, e empresas menores, como Marcopolo e Direcional.

O investidor precisa ter em mente que algumas decisões podem interferir drasticamente no seu retorno. Reinvestir o dividendo pago pela empresa é uma regra básica para quem quer ver o aumento de capital ao longo do tempo — foi isso que construiu a fama e a fortuna do megainvestidor Luiz Barsi Filho, maior acionista individual do Banco do Brasil. Investir em empresas com geração de caixa recorrente também é essencial no processo, uma vez que a desvalorização das ações por má gestão tende a corroer o ganho obtido com o pagamento do provento. “Se o investidor gasta o recurso que recebeu e o papel dele se desvaloriza, ele vai comprometer a carteira”, afirma Victor Natal, estrategista para pessoa física do Itaú BBA. “Por isso, é importante buscar empresas que tenham valorização de capital e que paguem bons dividendos. O benefício é maior.” Em um cenário onde os juros elevados pressionam a renda variável, apostar em boas pagadoras de dividendos pode ser a chave para o sucesso financeiro.
Publicado em VEJA de 7 de fevereiro de 2025, edição nº 2930