Entre minerais críticos e big techs: o que está na mesa de negociações entre Brasil e EUA
Washington busca garantir acesso a minerais críticos e atender interesses das big techs, enquanto o Brasil pleiteia investimentos e a redução das tarifas
No corredor da Assembleia Geral das Nações Unidas, Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump trocaram menos de um minuto de palavras. Foi um gesto mínimo, mas carregado de significado: a promessa de que, pela primeira vez desde o anúncio do tarifaço, Brasil e Estados Unidos podem se sentar à mesa de negociações.
Para Brasília, “tudo está sobre a mesa”, desde que as conversas se limitem ao comércio. O governo Lula deixou claro que não haverá concessões em temas políticos, como a pressão americana para favorecer o ex-presidente Jair Bolsonaro em processos judiciais. Essa parte é considerada “fora de questão”. O que permanece em aberto, contudo, pode redefinir setores-chave da economia brasileira.
O interesse de Washington repousa em minerais críticos e estratégicos. O Brasil é um dos poucos países capazes de oferecer lítio, nióbio e terras raras em escala, insumos fundamentais para a transição energética global e para reduzir a dependência da China, que hoje controla cerca de 70% da produção mundial desses minerais. Para Trump, que fez do discurso contra Pequim um dos pilares de sua política externa, garantir acesso a fornecedores alternativos não é apenas uma vantagem comercial, é um imperativo geopolítico.
O governo Lula, por sua vez, enxerga nas demandas americanas uma oportunidade de atrair investimentos para modernizar a mineração e industrializar parte dessa produção em território nacional. Desde os anos 1980, Brasília observa com frustração a exportação de commodities minerais de baixo valor agregado. Integrar-se a cadeias de produção de baterias, turbinas e semicondutores poderia dar ao Brasil não apenas receitas maiores, mas também relevância estratégica. A distensão diplomática também abre uma porta de oportunidade para Lula pleitear sobre redução das tarifas impostas por Trumo, que chega a 50% em alguns setores.
Outro tema sensível é a regulação das big techs. O Brasil vinha preparando um projeto de lei para estabelecer limites à moderação de conteúdo em plataformas digitais. Nos Estados Unidos, porém, regras desse tipo despertam resistência das empresas de tecnologia.
Ainda que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fale em “retomar acordos que já estavam em processo”, interlocutores de alto escalão admitem que, até o momento, os Estados Unidos não formalizaram nenhum pleito econômico. Trump prefere manter as cartas fechadas. A expectativa é que, em reuniões futuras, provavelmente virtuais, surjam propostas mais concretas.
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