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Entenda a estratégia do ‘caos’ usada por Trump para derrotar outros países

O objetivo do republicano é colocar os parceiros comerciais em uma situação de vulnerabilidade, forçando concessões rápidas como ferramenta de poder

Por Luana Zanobia Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 29 jan 2025, 12h26

Desde o início de sua carreira política, Donald Trump demonstrou uma propensão por métodos pouco convencionais. A estratégia do ‘caos‘, em que a imprevisibilidade e as ameaças são usadas como alavancas para negociação, tornou-se um dos pilares de sua política externa. Um exemplo recente dessa abordagem foi a ameaça de imposição de tarifas de até 25% sobre produtos colombianos, pressionando o país a aceitar um acordo de deportação de imigrantes. Embora inicialmente refratário, o governo colombiano acabou cedendo, ilustrando o êxito da tática de Trump.

“A imprevisibilidade é a pedra angular da estratégia de Trump, mantendo analistas e governos em um estado perpétuo de vigilância”, afirma Welber Barral, ex-secretário de comércio exterior e sócio da Barral Parente Pinheiro. Para Trump, o objetivo é colocar os parceiros comerciais em uma situação de vulnerabilidade, forçando concessões rápidas e criando um ambiente em que ele possa definir os termos das negociações. É o caos não como um acidente, mas como uma ferramenta de poder deliberada.

Essa abordagem não é nova no arsenal de Trump. Durante seu primeiro mandato, ameaças tarifárias contra México, Canadá e China tornaram-se frequentes. Embora muitas vezes percebidas como ações protecionistas, elas serviram principalmente como cartas de negociação, destinadas a obter acordos mais favoráveis para os Estados Unidos. Em 2018, por exemplo, a imposição de tarifas sobre aço e alumínio foi usada para pressionar o México e o Canadá a renegociar o NAFTA, culminando no Acordo EUA-México-Canadá (USMCA), mais alinhado aos interesses americanos.

A guerra comercial com a China é o exemplo mais claro das repercussões geopolíticas dessa abordagem. Ao impor tarifas sobre produtos chineses, Trump não apenas desencadeou uma retaliação em larga escala por parte de Pequim, mas também impulsionou uma reconfiguração estrutural das cadeias de suprimentos globais. Empresas multinacionais que dependiam da manufatura chinesa passaram a buscar alternativas em países como Vietnã, Malásia e até mesmo México.

A tática de Trump amplia a percepção de que o cenário global está em um estado constante de desestabilização, onde países, empresas e mercados precisavam se adaptar rapidamente a uma nova ordem de imprevisibilidade. O problema é que isso gera volatilidade, amplia a incerteza em mercados financeiros, afeta fluxos de capitais e aumenta o custo de fazer negócios no âmbito internacional.

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Internamente, a política de Trump também enfrenta desafios. Seu compromisso com a reindustrialização, o controle da imigração e a redução do déficit federal colidem com o aumento substancial dos gastos governamentais. “O maior dilema para Trump está no equilíbrio entre promessas de crescimento econômico e o impacto fiscal de suas ações”, alerta Barral. A expansão do déficit orçamentário e a pressão sobre o dólar são riscos reais, especialmente à medida que os mercados financeiros globais se tornam mais sensíveis às ações imprevisíveis da Casa Branca.

Para além das vitórias pontuais, o legado de Trump pode ser uma economia global mais fragmentada e uma política comercial mais volátil. Ao reescrever as regras do jogo, Trump força o mundo a se adaptar a suas condições — mas o preço dessa adaptação ainda está para ser calculado.

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