Empresária conta como deu volta por cima após quase falir: ‘Nunca desisti’
'Quero continuar crescendo, mas me mantendo fiel à minha própria ideia', diz Mônica Hauck
A minha primeira tentativa com a minha empresa, a Sólides, foi em 2010. Eu, formada em história, e meu marido, formado em matemática, resolvemos desenvolver um software para ajudar empreendedores a gerir seus recursos humanos. Com vocação para atender as pessoas, tive ideia de criar uma tecnologia que atingisse esse público, os pequenos empresários, com resistência à inovação. Era um mercado que não existia. Por incrível que pareça começou a dar certo. Mas, muito rápido, percebi que, se a gente quisesse realmente gerar impacto e dominar esse mercado, tínhamos de desenvolver um programa completo de RH. Só que eu tomei algumas decisões estratégicas muito erradas. Não dimensionei corretamente o custo da entrega do nosso serviço. E, no meio do caminho, o dinheiro acabou. Não tínhamos sócio, ninguém a quem pedir auxílio, e o software completo não ficou pronto. Vivi a situação de ter de mandar embora vinte dos 25 empregados e de bater à porta dos fornecedores para negociar as dívidas.
Essa fase foi muito difícil e durou um bom tempo. Eu estava grávida e logo passei a ter um bebê em casa. Ficamos seis meses sem receber um centavo e tendo de pegar empréstimos para pagar fornecedores e os salários dos funcionários que restaram. Eu não tinha dinheiro nem para demitir esses últimos. Parava o carro um quarteirão antes de chegar em casa e chorava sozinha. Só não fechei a empresa porque não sabia como era a burocracia para falir.
Na base da dor e do sofrimento, foi um momento em que eu desenvolvi habilidades importantes. Apesar de tudo, hoje, olhando para trás, considero que não abriria mão dessa dura passagem na minha trajetória. Aprendi a nunca desistir. A única coisa de valor que tinha sobrado eram algumas ações da Petrobras que, na época, pouco antes da Lava-Jato, estavam bem cotadas. Vendi essas ações e fui tentar abrir uma nova perspectiva, me matriculando em um curso na Universidade Stanford. Era um curso híbrido modelado para empreendedores brasileiros e que durou uns seis meses. Moramos, eu, meu marido, minha mãe e dois filhos, por um mês em Stanford, na Califórnia, conciliando tudo com o trabalho que seguia no Brasil.
Depois, com ideias renovadas, reiniciamos a Sólides do zero, mas persistindo no conceito de desenvolver um programa de RH para pequenas empresas. A visão estava correta, a execução é que havia sido errada. Colocamos todo o conhecimento em planilhas e montamos um software mais acessível. Mas precisaríamos de volume, o que requer dinheiro. O plano não tinha margem para erro. No segundo ano, fui atrás de investidores. Como estávamos cumprindo as metas, pensei que os fundos iriam amar o nosso projeto. Foi uma ilusão. Procuramos vinte fundos e só tivemos respostas negativas. Os gestores nos aconselhavam a tentar vender a grandes empresas porque pequenas e médias são complicadas. Também botavam defeito no nosso produto. Era o mercado financeiro apontando para um lado e a gente indo para o outro. Ou esse negócio ia dar muito certo ou ia dar errado.
A Sólides só foi ter o seu primeiro investidor em 2019, quando já contava com 1 500 clientes. O fundo DGF aportou 14 milhões de reais. Com esse impulso, chegamos aos 10 000 clientes em 2022, quando o fundo nova-iorquino Warburg Pincus nos procurou espontaneamente. Injetou 530 milhões de reais no nosso negócio — foi o maior aporte da história em uma empresa de RH na América Latina. Esse investimento já me permitiu aprimorar os sistemas, comprar outras empresas, apostar firme no marketing e abrir um escritório em São Paulo. Hoje temos 30 000 clientes e quase 1 000 funcionários. É assim que eu quero continuar, crescendo, mas me mantendo fiel à minha própria ideia.
Mônica Hauck em depoimento a Diego Gimenes
Publicado em VEJA de 6 de setembro de 2024, edição nº 2909