Em carta a Haddad, Galípolo destaca impacto do cenário fiscal para estouro da inflação
Novo presidente do Banco Central reforça que autoridade vem trabalhando para convergência da inflação

O novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, começou o ano já com a ingrata tarefa de explicar ao Ministério da Fazenda os motivos pelos quais a inflação ficou fora das metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Entre os principais fatores, Galípolo elencou o cenário externo, mas reforçou que aspectos domésticos foram proeminentes para explicar o comportamento dos preços da economia — como o ajuste fiscal do governo.
Conforme o rito, sempre que a inflação do ano vigente fica fora da meta, o presidente do BC prepara o material com as justificativas para o fato e as medidas que o BC vem tomando para enfrentar o problema. Em 2024, a taxa de inflação, medida pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), alcançou 4,83%, acima do limite superior do intervalo de tolerância, de 4,50%.
Na carta, endereçada ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, Galípolo afirma que a inflação de 2024 ficou acima do intervalo de tolerância “em decorrência do ritmo forte de crescimento da atividade econômica, da depreciação cambial e de fatores climáticos”, em um contexto de “expectativas de inflação desancoradas e inércia da inflação do ano anterior”.
“Entretanto, o fato de o real ter sido a moeda de maior depreciação em 2024, considerando seus pares ao nível internacional e os países avançados, sugere que fatores domésticos e específicos do Brasil tiveram papel expressivo nesse movimento cambial”, afirma o documento.
Galípolo prossegue dizendo que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal “afetou, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, com especial efeito sobre o prêmio de risco exigido pelos investidores, as expectativas de inflação e a taxa de câmbio. “As expectativas de inflação se deterioram ao longo de 2024, tanto para prazos mais curtos como para prazos mais longos, ampliando assim a sua desancoragem”, afirma.
Para enfrentar o cenário, o presidente do BC afirma que a autoridade tem definido a meta para a taxa Selic “para assegurar a convergência da inflação à meta”. Após um período de acomodação e afrouxamento Selic, o Comitê de Política Monetária (Copom) retomou ciclo de aumento da taxa de juros, “com ajustes de magnitude crescente e, na última reunião, com sinalização dos passos para as duas reuniões seguintes”.
A carta também destaca que, segundo as projeções do cenário de referência do Relatório de Inflação de dezembro, a inflação ficará acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025. Em seguida, o indicador deve entrar em trajetória de declínio, “mas ainda permanecendo acima da meta”.
“Em sua reunião mais recente, o Copom ressaltou que, em função da materialização de riscos, avalia que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior e que, no entanto, persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação”, diz.