Economista explica o alerta que vem do Prisma Fiscal sobre descontrole das contas públicas
Governo se esforça para arrecadar mais e vai entregar quatro anos de déficit fiscal, na projeção do mercado

As projeções divulgadas no relatório Prisma Fiscal indicam um forte esforço do governo para ampliar a arrecadação. O economista Denis Medina, professor da Faculdade do Comércio, destaca que a trajetória das estimativas revela uma busca constante por mais receitas. “Entre 2023 e 2024, houve um aumento de 9,62% na arrecadação; de 2024 para 2025, a expectativa é de mais 7%; e de 2025 para 2026, outros 5%”, diz.
Segundo ele, o ritmo supera o crescimento projetado da economia. “Com uma inflação em torno de 5% e um crescimento do PIB, sendo otimista, de 3%, o governo projeta arrecadar bem acima do que cresce a economia. Ou seja, a ânsia do governo de arrecadar continua forte”, afirma Medina.
Mesmo com o avanço na arrecadação, o resultado primário segue negativo — e as projeções do Prisma Fiscal reforçam esse cenário. “O presidente Lula recebeu o governo com superávit primário de 250 bilhões de reais e está devolvendo quatro anos de resultado primário negativo, com déficit em toda a sua execução”, aponta o economista.
O relatório projeta déficit nas contas públicas tanto em 2025 quanto em 2026. A projeção de déficit primário para 2026 subiu e ultrapassou a marca dos 80 bilhões de reais, segundo a mediana das estimativas coletadas pelo Ministério da Fazenda no relatório Prisma Fiscal. A nova previsão aponta para um rombo de 80,689 bilhões de reais, acima dos 78,157 bilhões esperados no mês anterior. A deterioração nas expectativas para 2026 contrasta com uma leve melhora nas projeções para 2025, cujo déficit estimado passou de 73,656 bilhões para 72,687 bilhões de reais.
Embora o relatório divulgado hoje seja totalmente baseado em expectativas, as contas públicas não mostram sinais de melhora e seguem em trajetória insustentável, com perspectiva de colapso em 2027, conforme apontou a consultoria da Câmara. “As contas públicas não vêm caminhando numa direção saudável, não tem perspectiva de mudança, não há expectativa de redução nos gastos públicos, não há expectativa de uma reforma administrativa no curto prazo, que seria importante, e a gente não tem uma direção de país”, afirma.
Na quinta-feira à noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que levará ao presidente Lula um conjunto de medidas pontuais para garantir o cumprimento da meta fiscal de 2025. O arcabouço fiscal prevê déficit zero em 2025 e superávits crescentes até 2028, com limite ao crescimento das despesas atrelado ao avanço das receitas.
Medina também chama atenção para a estimativa de inflação no relatório Prisma: o INPC deve fechar 2025 em 5,38%, bem acima do teto da meta (4,5%), e chegar a 4,5% em 2026 — no limite superior. A meta do governo é 3%, o que significa que o teto será descumprido por três anos consecutivos.