Dólar ultrapassa barreira de R$ 5,70 pela primeira vez em oito dias
A moeda americana se valoriza em dia de cautela à espera das decisões de política monetária nos Estados Unidos e Brasil

O dólar avança frente ao real e supera os R$ 5,70 pela primeira vez em mais de uma semana. Já o Ibovespa tenta se recuperar das perdas da véspera, impulsionado pela valorização do petróleo, mas ainda sem grande fôlego.
O clima nos mercados é de expectativa nesta terça-feira, 6, com os investidores ajustando posições antes das decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, ambas marcadas para amanhã. Nos EUA, o consenso aponta para a manutenção dos juros. No Brasil, entretanto, a expectativa é de alta da Selic, com apostas divididas entre 0,25 e 0,5 ponto percentual — sendo esta última a projeção majoritária. “O dólar em alta em conjunto com o Ibovespa positivo revela uma contradição típica de momentos de transição de ciclo monetário e fiscal. Os investidores celebram ganhos pontuais de empresas brasileiras, mas ao mesmo tempo se preparam para impactos de uma política monetária mais rígida”, explica Felipe Vasconcellos, sócio da Equus Capital. Segundo ele, a valorização do dólar no dia de hoje, também reflete o aumento da aversão ao risco no cenário internacional, marcado por tarifas, déficit e sinais de contração na economia dos EUA. “Essa correlação entre Bolsa e dólar em alta soa como um alerta: o mercado está animado, mas não confiante.”
O ambiente doméstico de juros elevados reforça a cautela, ainda mais após a divulgação de novos sinais de desaceleração econômica. O Índice de Gerentes de Compras (PMI) de serviços, da S&P Global, caiu para o território de contração em abril pela primeira vez no ano, sugerindo que o setor — responsável por cerca de 70% do PIB — começa a sentir mais fortemente os efeitos do juro real alto e da demanda enfraquecida. “A reprecificação da curva de juros — agora projetando uma Selic ainda mais alta — mostra que o ambiente doméstico está longe de oferecer segurança”, avalia Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.
No radar interno, os investidores acompanham a tramitação da proposta do governo que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Vista como uma tentativa do Planalto de reforçar sua base popular, a medida enfrenta resistências no Congresso, sobretudo quanto à compensação da renúncia fiscal, alimentando dúvidas sobre o compromisso com o arcabouço fiscal.