De olho em privatização, angolana Taag faz acordo com Gol
Companhia aérea africana traça roteiro para voltar ao lucro e mira o Brasil como mercado estratégico; plano é investir US$ 2 bilhões nos próximos anos
Uma conferência internacional do mercado de aviação realizada em Salvador, em agosto de 2022, foi o pontapé inicial para uma parceria que está se materializando entre Brasil e Angola. Na ocasião, o diretor-presidente da Gol, Celso Ferrer, reuniu-se com o CEO da Taag Linhas Aéreas Angolanas, o espanhol Eduardo Fairen Soria, em uma conversa que culminou com um codeshare (acordo de voos compartilhados) que será anunciado na próxima segunda-feira, dia 3. A ideia é ampliar a oferta de voos das duas empresas por meio dos hubs de São Paulo (Aeroporto de Guarulhos) e de Luanda (Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro). Para a Taag, é uma oportunidade de repetir o êxito obtido em um acordo semelhante firmado com a espanhola Iberia, em novembro de 2022.
Soria está no Brasil como membro da comissão de Angola que se reunirá para assinar um acordo bilateral entre os países na próxima semana. Em entrevista a VEJA, o CEO da Taag diz que quer ampliar a representatividade do Brasil nos negócios da empresa, mas que tal empenho em nada se baseia na troca de comando na presidência do país. “O Brasil está se convertendo em um país muito mais importante para a economia global do que era antes da Covid. É, sobretudo, um ponto de entrada para o e-commerce em todo o continente africano. E nós somos a principal ligação entre os dois continentes”, afirma o executivo. Com esse acordo com a Gol, a empresa vai chegar a 13 destinos no Brasil e a parceira vai poder se integrar com todos os destinos regionais e domésticos da angolana.
Com uma operação de 26 rotas atualmente, a Taag está passando por um momento de reformulação. Em breve, a empresa irá operar sete voos por semana entre São Paulo e Luanda — hoje, são cinco. O objetivo, conta Soria, é traçar um roteiro de volta ao lucro na operação para que a empresa seja privatizada nos próximos anos. Além de São Paulo, parte significativa da receita da empresa (cerca de 500 milhões de dólares) vem de voos para Madri, na Espanha; e Lisboa, em Portugal. “A companhia será privatizada. Ainda não sabemos exatamente quando, mas o governo está com esse interesse de privatização. O nosso plano de negócios é dar lucro em 2025. Isso é fundamental para fazer a companhia ser mais eficiente e atrair investidores”, revela o CEO da Taag. O plano de reestruturação da companhia prevê um investimento de até 2 bilhões de dólares para a reformulação de sua frota de aeronaves nos próximos anos. “Queremos incorporar esses novos aviões à frota em 2024”, complementa.
O interesse do governo angolano em retomar o prestígio da companhia aérea também passa pela inauguração de um novo aeroporto internacional em Luanda. Batizado de Dr. António Agostinho Neto, em homenagem a um ex-presidente do país, com inauguração prevista para dezembro deste ano, a expectativa é que o novo instrumento receba 15 milhões de passageiros e 50 mil toneladas de mercadorias por ano — as obras no local foram iniciadas em 2007. “Esse aeroporto terá a terceira maior infraestrutura na África. Será um salto gigante em relação ao atual aeroporto em termos de volume, espaço, estrutura e tecnologia”, projeta Soria.