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Dado de emprego desafia a inflação, mas aproxima os EUA de um pouso suave

País criou 254 mil novas vagas de trabalho, acima da expectativa de 150 mil, enquanto registra desaceleração na inflação

Por Luana Zanobia Atualizado em 4 out 2024, 15h47 - Publicado em 4 out 2024, 12h09

O mais recente relatório de empregos dos Estados Unidos trouxe alívio ao mercado, que há tempos temia que as prolongadas altas taxas de juros pudessem levar o país a uma recessão. Ao contrário do que se acreditava, o mercado de trabalho continua resiliente. O país criou 254.000 novas vagas de trabalho não agrícolas, superando de longe as expectativas de 150.000. Embora esse crescimento robusto possa ser visto como um fator de pressão inflacionária, a leitura mais ampla é otimista: a economia americana pode estar finalmente se aproximando de um pouso suave, o equilíbrio desejado entre o controle da inflação e a preservação do crescimento econômico, afastando os temores de uma recessão iminente.

Apesar do aumento de vagas, a taxa de desemprego caiu de 4,2% para 4,1%, demonstrando que a economia segue equilibrada. Quando o Federal Reserve (Fed) começou a cortar os juros, houve preocupações de que a política monetária restritiva estivesse em vigor por muito tempo, prejudicando o crescimento econômico e o mercado de trabalho. “Mais uma vez, os dados de hoje são um bom lembrete de que o mercado tende a subestimar a economia dos EUA”, avalia Audrey Childe-Freeman, estrategista-chefe da Bloomberg Intelligence. Segundo o especialista em câmbio, o relatório, indiscutivelmente forte, afasta temporariamente as recentes discussões sobre uma possível recessão e reforça o otimismo em torno do dólar.

O dado robusto de emprego, embora possa aumentar a inflação e levar o Fed a reavaliar a velocidade e o tamanho dos cortes de juros nas próximas reuniões, envia uma mensagem encorajadora: a economia está conseguindo controlar a inflação sem afetar drasticamente o mercado de trabalho. A inflação americana se encontra a uma taxa anual de 2,5%, chegando próxima da meta de 2%.

Além do payroll, outros indicadores do mercado de trabalho também mostraram resiliência. O relatório JOLTS, que mede a abertura de vagas, e o relatório ADP, que rastreia as contratações no setor privado, ambos superaram as expectativas, indicando que as empresas americanas continuam a contratar em ritmo acelerado. “Os dados diminuem o risco de uma recessão e confirmam cada vez mais o cenário de pouso suave da economia norte-americana”, diz Rafael Perez, economista da Suno Research.

O cenário, porém, não está livre de riscos. Se, por um lado, o crescimento robusto do emprego demonstra a resiliência da economia, por outro, o aumento dos salários pode gerar pressões inflacionárias adicionais, o que poderia levar o Fed a reconsiderar o ritmo de corte de juros nas próximas reuniões. A principal preocupação é a aceleração do salário médio por hora, que subiu de 3,8% para 4,0%. Além disso, as tensões no Oriente Médio representam uma ameaça externa, com potencial de elevar os preços de combustíveis e energia, aumentando as incertezas no quadro inflacionário.

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Para o Fed, a escolha à frente não é simples. A política de cortes graduais de juros pode ser reavaliada se o mercado de trabalho continuar pressionando a inflação. Economistas já preveem mais dois cortes modestos de 0,25 ponto percentual até o final do ano, mas o ritmo poderá desacelerar se os sinais de pressão inflacionária se intensificarem.

A boa notícia é que, ao contrário das previsões pessimistas que dominaram o ano, a economia dos EUA está mostrando uma resiliência que muitos subestimaram. O cenário de um pouso suave, outrora improvável, agora parece mais tangível. O emprego está crescendo, a inflação está sob controle — ainda que vigilante —, e a perspectiva de recessão parece cada vez mais distante.

Ainda assim, há quem alerte para os riscos de uma visão excessivamente otimista. Michael Kramer, da Mott Capital, observa que o mercado pode ter caído numa falsa sensação de segurança, ignorando que o emprego elevado e o aumento dos salários podem reverter rapidamente os avanços contra a inflação.

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O caminho para um pouso suave não está garantido. O Fed precisará ajustar cuidadosamente sua política monetária para evitar que a recuperação no mercado de trabalho não se transforme em uma nova fonte de inflação. O sucesso depende de uma série de fatores interconectados, incluindo o comportamento dos consumidores, a evolução dos preços da energia e o ritmo das negociações salariais.

Por enquanto, a combinação de crescimento robusto no emprego, inflação controlada e uma economia em desaceleração moderada sinalizam que o pior pode ter passado para os Estados Unidos. O desafio agora é navegar com cautela e garantir que o equilíbrio entre inflação e crescimento se mantenha. Se o Fed conseguir ajustar esse cenário sem reverter os cortes de juros, o tão almejado pouso suave poderá finalmente se concretizar.

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