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Contra alta da Selic, fintech Hurst Capital amplia leque com precatórios

Diante dos juros altos, que fazem o investidor correr para a renda fixa, fintech oferta precatórios tokenizados para manter relevância

Por Felipe Mendes 31 Maio 2023, 10h58

Especializada em investimentos alternativos, a fintech Hurst Capital está mergulhando no mundo dos precatórios. A empresa tem comprado títulos de dívidas judiciais a fim de revendê-los aos investidores. Nos últimos dias, a Hurst lançou uma operação que promete rentabilidade de até 30% ao ano referente a um passivo do governo da Paraíba avaliado em 2,9 milhões de reais. A operação é uma forma encontrada pela companhia para fazer frente ao cenário de alta na Selic e fuga de investidores para a renda fixa. “O nosso desafio para este ano é conseguir oferecer produtos que tenha uma relação de risco, retorno e liquidez que façam o investidor sair da renda fixa e dos títulos públicos”, diz o CEO da fintech, Arthur Farache.

A oferta de tokens de precatórios tem crescido e atraído os investidores por sua rentabilidade acima dos títulos mais tradicionais da renda fixa. No caso, o investidor adquire uma parcela da dívida de precatório, que nada mais é que um título judicial relacionado a um órgão público — geralmente, o precatório se forma quando a Justiça ordena o pagamento de um valor determinado em uma ação judicial referente a salários, pensões, indenizações, desapropriações, entre outros. Ao comprar esse direito, os investidores estão antecipando o dinheiro para o dono do precatório, que vende seu título com deságio. Quem investe lucra com a diferença de valor corrigido quando o poder público finalmente paga a dívida.

Em maio, a Hurst liquidou duas operações com precatórios, ambas relacionadas ao governo de São Paulo. A primeira, lançada em outubro de 2021, ofereceu um retorno de 22,5% ao ano aos investidores que aplicaram, em média, 822 reais. A segunda, por sua vez, foi lançada em novembro de 2021, cujo valor total foi de 304,2 mil reais, e rendeu 21,8% ao ano. Farache admite que a ideia da empresa é investir mais nesse tipo de operação. “Nós temos uma área de pesquisa que mapeia oportunidades e que olha as dívidas dos municípios do país constantemente. Os detentores desses precatórios estavam há muito tempo sem ter uma perspectiva de quando iriam receber”, complementa ele.

O executivo conta que a empresa tem ampliado rapidamente sua carteira de clientes. Passou de 10 mil contas abertas para 50 mil em apenas um ano, e pretende dobrar esse número em breve. “A gente não acha que vai conseguir manter o ritmo de crescimento que tivemos no ano passado, mas a gente pretende fazer o mesmo número de captação e o mesmo número de contas abertas, só que gastando a metade do que gastamos na operação no ano passado”, diz. “A ideia é atingir 100 mil contas abertas.”

Reconhecida por seu trabalho com royalties culturais, pelo qual o investidor adquire direitos sobre músicas, filmes ou obras de arte, a fintech lançou um catálogo com composições de Lari Ferreira e Renan Valim, que já viraram sucesso nas vozes de artistas como Anitta, Wesley Safadão e Marília Mendonça. Na plataforma Spotify, as músicas ofertadas já foram tocadas mais de 3 bilhões de vezes. “A popularização do Forró deixa a gente animado com a perspectiva de retorno desse investimento. Por outro lado, a gente vê que a Marília Mendonça, apesar de ter falecido, ainda é uma das artistas mais tocadas do Brasil”, afirma Farache. O bloco de músicas conta com alguns sucessos da “Rainha da Sofrência”, como Eu Sei de Cor e Todo Mundo Vai Sofrer. A rentabilidade da operação pode variar de 21% a 29% usando um cenário-base de três anos, com aporte mínimo de 10 mil reais.

Ainda incipiente na oferta de filmes, a Hurst viu com bons olhos a tentativa da Netflix de colocar um fim no compartilhamento de senhas na plataforma. O CEO da empresa acredita que isso deve trazer mais atratividade para os investidores desse tipo de conteúdo. “Foi uma solução criativa para endereçar um problema complexo, que é o compartilhamento de senha das plataformas de streaming. É um problema difícil de resolver, mas, para nós, investidores de royalties de cinema, a perspectiva é que isso aumente a arrecadação, porque as plataformas vão capturar um valor que ficava perdido com o compartilhamento de acesso”, acredita ele.

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