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Conheça a história do chocolate e como ele chegou ao Brasil

No Brasil, as sementes de cacau chegaram em 1746 trazidas por um francês que presentou Antônio Dias Ribeiro, um fazendeiro do Sul da Bahia

Por Lívia Andrade
Atualizado em 26 mar 2018, 12h15 - Publicado em 26 mar 2018, 08h15

Símbolo da Páscoa e um dos doces mais venerados no mundo, o chocolate tem origem nas regiões tropicais das Américas Central e do Sul. Segundo uma lenda asteca, Quetzalcoatl, deus da Lua, roubou da terra uma árvore de cacau – fruto que é a matéria-prima do chocolate – para presentear seus amigos homens com uma delícia dos deuses. Na época, o costume dos indígenas da região era produzir uma bebida escura feita com as sementes fermentadas do fruto do cacaueiro batizada de tchocolath (tchocol, de amargo, e ath, de água).

O líquido foi levado à Europa por Fernando Cortez, espanhol responsável pela colonização do México. Ele ficara intrigado com a poção escura que os nativos bebiam e ofereciam aos deuses, porque ela dava a eles um vigor impressionante. “Uma taça da tal bebida permite aos homens caminhar um dia inteiro sem a necessidade de outros alimentos”, escreveu Cortez ao imperador Carlos V. A lenda e as propriedades do chocolate foram se difundido a ponto de influenciar o botânico sueco Carlos Linnaeus, que classificou o cacaueiro como theobroma cacao, do grego theo (deus) e broma (alimento).

A importância do fruto fez dele uma moeda de troca. Com dez favas (sementes) se comprava um coelho e com 100 favas, um escravo. As primeiras fábricas de chocolate foram abertas na Espanha e na França no fim do século 16, época em que o chocolate era feito apenas com cacau e açúcar. No entanto, em 1870, o chocolateiro suíço Daniel Peter, influenciado por seu conterrâneo, o químico Henri Nestlé, que inventara o leite condensado, resolveu juntar leite aos outros ingredientes da receita. Nascia assim o chocolate ao leite.

No Brasil, as sementes de cacau chegaram em 1746 trazidas por um francês que presentou Antônio Dias Ribeiro, um fazendeiro do Sul da Bahia, com algumas delas. O clima favoreceu o plantio e as lavouras cacaueiras prosperaram na região, que ficou conhecida pelos coronéis do cacau, fato que – inclusive – inspirou obras literárias do consagrado escritor Jorge Amado. A produção abundante levou os irmãos Neugebauer e o sócio Gerhardt, todos imigrantes alemães, a fundar a primeira fábrica de chocolate brasileira, em Porto Alegre, em 1891. Vinte e um anos depois, o cônsul suíço Achilles Izella lançou a pedra fundamental de outra marca nacional, a Lacta. Depois veio a Kopenhagen em 1928, a Garoto em 1929 e, em 1959, a suíça Nestlé começou a fabricar chocolates no Brasil.

Chocolate
Chocolate (iStock/Getty Images)
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A abundante oferta de matéria-prima atraiu grandes players, como a Cargill, até hoje a maior processadora de cacau da América Latina. De 1986 até 1990, o Brasil foi o segundo maior produtor mundial da commodity, chegando a produzir 458 mil toneladas de amêndoas/ano. Hoje, está em sétimo lugar do ranking com uma produção de 214 mil toneladas no ano passado. O declínio deixou as indústrias moageiras, aquelas que prensam o cacau para extração de manteiga de cacau e massa de cacau, com capacidade ociosa. Atualmente, elas importam matéria-prima para suprir a demanda das fábricas de chocolate do Brasil.

O declínio das lavouras cacaueiras se deve à introdução criminosa (como ficou comprovado) da vassoura-de-bruxa, praga que dizimou as plantações.  No entanto, em 2016 a cadeia do setor lançou um plano para dobrar a produção brasileira de cacau em 10 anos. “Somos o único País do mundo que produz cacau, processa a amêndoa, fabrica chocolate e tem mercado consumidor”, diz Eduardo Bastos, diretor-executivo da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).

De fato, há espaço para crescer. “O brasileiro consome em média 2,5 quilos de chocolate por ano, enquanto o suíço, o austríaco e o alemão consomem um volume superior a 7 quilos por pessoa/ano”, diz Ubiracy Fonseca, presidente da Abicab, associação que representa a indústria brasileira de chocolate e cacau. Nos últimos anos, cresceu o número de chocolatarias artesanais no Brasil, aquelas que trabalham no conceito Bean to Bar e fazem todas etapas da fabricação do chocolate desde a amêndoa até a barra. A exemplo do que aconteceu no mundo do vinho, a tendência é que se valorize cada vez mais a origem da matéria-prima e as características peculiares do chocolate feito com o cacau de uma determinada região.

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