Como alimentos e bebidas foram os vilões da inflação em 2022
Com alta de 11,64%, grupo representou 41,6% da alta do IPCA no ano; cebola foi o alimento com maior alta, de mais de 150% em alguns estados

Como divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 10, o Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 5,79% em 2022, sendo que a principal pressão sobre a inflação veio de alimentos e bebidas. Esses itens cresceram 11,64% no ano, representando 2,41 pontos percentuais dos 5,79%, ou seja, 41,6% segundo o IBGE.
No ano anterior, o principal “vilão” da inflação fora a gasolina, que correspondeu a 2,34 pontos percentuais da alta de 10,06% do IPCA em 2021. Em 2022, no entanto, a desoneração dos impostos sobre os combustíveis feitas pelo governo de Jair Bolsonaro aliviou o preço da gasolina. Somado à queda do petróleo no mercado internacional no segundo semestre, o preço do grupo dos combustíveis de veículos caiu 23,87% em 2022, enquanto a gasolina retraiu 25,78%.
A alimentação no domicílio, por sua vez, cresceu 13,23%, sendo que o alimento que teve maior alta em 2022 foi a cebola, com média de 130,14% no país e chegando a 171,45% em Belém do Pará. Mas outros itens também tiveram alta considerável, como foi o caso do inhame, com 62,96%, da farinha de mandioca, com 38,56%, do milho em grão, com 35,24%, e da farinha de trigo, com 31%. Leites e derivados em geral subiram 22,07%, enquanto frutas tiveram alta de 24%.
Diversas razões explicam a alta dos alimentos em 2022, entre elas, a guerra da Rússia com a Ucrânia, países que são responsáveis por quase 30% da exportação de cereais do planeta, sendo que a Rússia é a maior exportadora mundial de trigo. “Houve uma concentração muito grande por busca de cereais nas Américas, em especial, no Brasil”, diz Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios. Como o trigo é matéria básica para diversos alimentos, como pães, biscoitos e massas, isso acabou gerando um efeito cascata em demais itens da cesta.
Além disso, a seca no Brasil prejudicou as safras, elevando os preços dos produtos. “Houve redução dos índices pluviométricos para todos os produtores de soja e milho do planeta, o que acabou gerando uma maior sobrecarga de demanda por quem tem o grão disponível”, diz Pereira. Em 2022, o Brasil acabou sendo um funil de concentração de demanda por milho, uma vez que o preço é vantajoso para os compradores internacionais. A mudança no clima também prejudicou a cultura de hortaliças, frutas e legumes, enquanto a redução das chuvas prejudicou as pastagens, elevando o preço do leite e seus derivados.
Outros fatores que encareceram os alimentos foram o preço do petróleo no mercado internacional, que impacta em diversos custos para os produtores, como adubos, fertilizantes, e no combustível para maquinário e transporte dos produtos. Apesar de, no segundo semestre de 2022, a cotação do petróleo cair em todo o planeta, ele atingiu em maio 120 dólares o barril tipo Brent, gerando um impacto forte no IPCA acumulado no ano.