Como a derrota do governo aumenta o apetite do Centrão na pauta econômica
Derrotas do Governo no PL das Fake News e no Marco do Saneamento animaram 'velhas raposas' que buscam espaço na discussão fiscal

A derrubada de pontos de decretos do presidente que alteravam o Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020, na gestão de Jair Bolsonaro (PL), acendeu todos os sinais de alerta no governo. A derrubada precisava de apenas 257 votos, mas o placar foi de 295. É o segundo revés do Planalto na semana. Sem a certeza de que o PL das Fake News teria votos suficientes para aprovação e a pedido de deputados para maior tempo de análise, o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), autor do projeto, pediu o adiamento da discussão do texto.
A depender da boa vontade do Congresso, a próxima dificuldade do governo será a aprovação do novo arcabouço fiscal. Quem sabe até a reforma tributária. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prevê que a matéria será votada em até duas semanas. Relator do projeto, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA) já apresentou para a equipe econômica um esboço do texto que irá ao plenário.
As dificuldades encontradas pelo Planalto no Congresso passam muito pela atuação de três figuras-chave do governo: Rui Costa (Casa Civil), Miriam Belchior (Secretária-Executiva da Casa Civil) e, principalmente, Alexandre Padilha (Relações Institucionais). Na semana passada, líderes de partidos da base tiveram um tête-à-tête sem rodeios com Padilha e deixaram claro que as próximas votações vão caminhar de acordo com as publicações no Diário Oficial da União — ou seja, mediante a liberação de cargos.
Padilha se defendeu e mostrou planilhas com datas de encaminhamento de nomeações para a Casa Civil, em despachos com o ministro-chefe Rui Barbosa e Miriam Belchior. “Minha parte foi feita”, disse, ao jogar a culpa aos colegas. Não colou. Um dos presentes rebateu e pediu que ele resolvesse isso. “Do contrário, vocês não terão vida fácil”, ouviu o ministro.
Costa e Miriam já não facilitam a vida de Padilha. Foram criados mais dois critérios para nomeações, além do emaranhado já existente: conveniência e oportunidade. Ou seja, só será nomeado o candidato que for conveniente e oportuno para o Planalto.
Um governo sem base e sem simpatia entre os parlamentares é a tempestade perfeita para o Centrão abocanhar mais uma fatia do poder. Como um bom tubarão, que sente cheiro de sangue à distância, o PP tenta convencer Ricardo Barros, ex-líder de Jair Bolsonaro na Câmara, a retomar o mandato de deputado federal. Secretário de Indústria no Paraná, Barros foi um dos artífices do Orçamento Secreto e relator da lei orçamentária de 2016. Presidente do partido, Ciro Nogueira acha que Barros, especialista em assuntos fiscais, pode ajudar o deputado Cajado na elaboração do relatório do novo arcabouço, mesmo que informalmente.
O governo, sem muito poder de convencimento, sabe dessas movimentações ao seu redor. Quem mais faz coro contra a volta de Barros é a presidente do PT, Gleisi Hofmann, por ele ter sido o líder do governo anterior na Câmara. Mas ele também foi líder nas gestões de Fernando Henrique Cardoso e vice-líder de Lula e Dilma.