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Com subsídios, tarifa do Brasil sobre os EUA é 3%, não 11%

Trump implantou um imposto mínimo de importação de 10% sobre todos os países com que comercializa alegando reciprocidade

Por Juliana Elias Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 abr 2025, 12h40 - Publicado em 11 abr 2025, 07h03

Um dos pontos centrais do argumento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para elevar globalmente as tarifas de importação que seu país aplica sobre o resto do mundo reside no fato de que essas trocas estariam em nível completamente injusto, com os EUA pagando muito mais em imposto de importação aos seus parceiros do que o que cobra de cada um deles. Não à toa, o pacote de aumento tarifário de Trump ganhou o nome de “tarifas recíprocas” – ou seja, cobrar dos parceiros o mesmo que é cobrado por eles.

No caso do Brasil, os números formais podem até corroborar a impressão defendida por Trump, já que a alíquota média de importação do Brasil é, de fato, bem mais alta que a dos EUA. Na prática, entretanto, o imposto efetivamente pago pela empresas que estão no Brasil e que trazem produtos de fora é bem mais baixo do que as alíquotas oficiais, graças a uma série de programas de benefícios à produção que há no país. O resultado final é que a tarifa efetiva praticada nas trocas comerciais entre os dois países é muito parecida.

A alíquota máxima média aplicada pelo Brasil atualmente sobre tudo o que importa (e que varia entre os diferentes produtos) está em 11,2%, enquanto a dos Estados Unidos, uma das mais baixas do mundo, é de 3,3%, de acordo com os dados compilados pela Organização Mundial do Comércio (OMC) de todos os seus membros (veja a lista completa das tarifas por países mais abaixo).

Esse número, entretanto, que é calculado e reportado pelos próprios países, é uma média que diz respeito às alíquotas máximas de importação previstas em suas leis e acordos para cada produto. Na prática, porém, elas podem ter uma série de descontos e isenções e acabam bem menores.

Uma conta feita pela economista Marta dos Reis Castilho, especializada em comércio internacional, mostra que a tarifa média efetivamente paga por produtos importados que chegaram ao Brasil no ano passado, considerados todos os países, foi de 4,8%. Quando considerado apenas o fluxo de importações dos Estados Unidos, isso cai para 2,9% – bem mais perto da taxa de 3,3% aplicada pelos EUA do que dos 11,2% de referência do Brasil. No início de abril, Trump apresentou seu pacote de tarifas recíprocas criando um imposto mínimo de importação de 10% sobre tudo o que compra de mais de 160 países.

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“Os países desenvolvidos têm cadeias produtivas muito mais internacionalizados e a sua estrutura tarifária é naturalmente diferente dos países em desenvolvimento, que têm indústrias menos competitivas” , diz Castilho, que é professora e coordenadora do Grupo de Indústria e Competitividade do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Ainda assim, a nossa tarifa média, quando considerados todos os regimes especiais que temos, é bem mais baixa.”

 

A conta da tarifa efetiva é simples e intuitiva: ela considera tudo o que o país arrecada com o Imposto de Importação, um dado que a Receita Federal acompanha e discrimina por país, em proporção a tudo o que importa. De acordo com os números levantados por Castilho, entre janeiro e agosto de 2024 o Brasil importou 140 bilhões de reais em produtos dos Estados Unidos, enquanto arrecadou 4,2 bilhões em Imposto de Importação proveniente de lá no mesmo período – de onde vem a proporção de cerca de 3% de um em relação ao outro.

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A conta coincide com cálculo semelhante feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base dos números de 2023, e que, pela mesma metodologia, chegou a uma alíquota efetiva média de 2,7% no imposto sobre as importações dos Estados Unidos para o Brasil. É por isso que, na opinião da entidade que representa a indústria de transformação brasileira, a estratégia de Trump de ameaçar com imposto mais alto para estimular os parceiros a reduziram os seus não faz muito sentido no caso do Brasil. “A tarifa que o Brasil já cobra dos Estados Unidos é muito mais baixa do que eles estão dizendo”, disse a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri. “O caminho para o Brasil é intensificar o diálogo, tanto com os Estados Unidos quanto com as nossas contrapartes, para mostrar a agenda de complementaridade que temos e os efeitos negativos que podem vir disso.”

Entre os grandes regimes que reduzem a carga tributária das importações no Brasil estão o Drawback, que permite a suspensão ou isenção de impostos pagos sobre insumos usados na fabricação de produtos que serão exportados, e o Ex-tarifário, que reduz ou isenta o Imposto de Importação de máquinas ou equipamentos de tecnologia e telecomunicações adquiridos para o uso nos negócios e que não tenham similares nacionais.

Como a pauta de importação brasileira vinda dos Estados Unidos está repleta de produtos com este perfil, adquiridos pela própria indústria para usar em sua produção, o alívio tarifário é grande. “Nós importamos muitos bens de capital, produtos químicos e uma série de itens que têm tarifa zero”, diz Castilho, da UFRJ. De acordo com a CNI, entre os vinte produtos mais importados pelo Brasil dos Estados Unidos em 2023, metade teve tarifa efetiva de 0%, lista que inclui petróleo e derivados, aviões, partes de aviões, fertilizantes e outros.

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